quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Maria, a inocente

Augusto Alberto

Hoje trabalho como empregada de limpeza. Ganho 475 euros por mês, por um trabalho das 15.00 horas às 22.00. Não me queixo. “A gente aprende a consolar-se com pouco”. Maria.
“Estiveram aqui ontem 100 mil, mas deveriam ter estado um milhão. Eu também, mas não estive, porque fui um cobarde”. Cidadão anónimo de Atenas, na ressaca da dupla violência. Da física e do futuro.
Este anónimo grego começou a perceber, tarde evidentemente, aquilo que Maria, a portuguesa ainda não percebeu. Que não se veio ao mundo só para parir e produzir riqueza que a gente sabe sempre para onde vai. A passagem pela terra exige qualidade e respeito. Infelizmente, Maria ainda não, mas o anónimo cidadão grego já começou a descobrir que o trabalho tem valor. Que além do respeito, permite uma vida íntegra.
O que acontece é que a canalha conhece muito bem o perfil psicológico deste povo, que tem um medo medonho ao escuro e por isso, vá de retro Satanás, à mudança. Bem sei que é difícil mudar este perfil emocional, porque são séculos a carregar no jumento, que de tão educado, raramente dá um coice ou um aí. E a canalha, carrega, carrega e o jumento aguenta, física e mentalmente. Até porque a canalha montou um verdadeiro círculo de informação e contra informação, uma espécie de uniformizador de cérebros, que mantêm as alimárias sossegadas e disponíveis para mais carrego.
Evidentemente que também podem ter as suas dificuldades, sobretudo, se algum povo começa a abrir os olhos. Até se pode dar o caso de algumas personagens de direita passarem a personagens de esquerda ou ainda, elevar uma metamorfose à potência máxima. Um tal fascista passar a uma espécie de socialista. Mas esta é história para depois.
De qualquer modo, bem pode pensar Maria que resolveu o problema. Contudo, o trabalho a dias não cria riqueza e assim Maria irá continuar a ser a mulher-a-dias de 475 euros, até estoirar. E pior ainda, vai sobrar para as que pariu.

Sem comentários: