sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pança e a razão

Augusto Alberto

Sancho, que apesar de ter pança não era despossuído de inteligência e de fino humor, lembrou a D. Quixote que às vezes até os bandidos sentem necessidade de fazer uso da lei. Especialmente se a lei for desenhada e escrita pelos próprios bandidos.
No mesmo sentido vai Miki Teodorakis, músico maior e resistente à ocupação da Grécia pelo fascismo alemão e à ditadura dos coronéis. Teodorakis apelou ao levantamento patriótico contra o governo imposto pelos Estados Unidos e as restantes democracias ocidentais ao povo grego, que dura há mais de 50 anos.

E nós, se nos formos capazes de ver ao espelho, veremos como as coisas são iguais. Há pelo menos 35 anos temos os governos que as democracias ocidentais querem que tenhamos, após um pequeno período em que julgaram que a correlação de forças não lhes era favorável. Na verdade, a correlação de forças sempre foi em seu benefício. Como prova quero deixar aqui um singelo exemplo. Olhemos para a comissão parlamentar de acompanhamento do programa de resgate, vulgo programa da troika. E o que vemos? Que o deputado do PSD/PPD, Miguel Frasquilho, espécie de dândi, é um alto quadro do Banco Espírito Santo. Que o deputado Mesquita Nunes, do CDS/PP, é um celebrado jurista no escritório encarregado do processo das privatizações. E que Pedro Pinto, deputado também do PPD/PSD, truculento e espécie de caceteiro, é consultor de empresas dependentes da EDP.
Tudo gente com especial interesse em que se cumpra a lei. Da Troika, evidentemente. Sancho Pança está carregado de razão. Os bandidos, pouco dado a enganos, fazem sempre bom uso da lei, que desenharam e escreveram.
Por isso, bom Povo Português, está na hora de tomares tino, sob pena de teres pela frente mais 50 anos de fascismo, a somar aos anteriores 48, mais os 35 que correm. 
Atenciosamente. 

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