terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pilatinhos


 Augusto Alberto
    

Dissequemos as novas, porque depois da bonança virá a borrasca.
A Associação Naval 1º de Maio perde a totalidade dos seus atiradores, que se transferirão para o Sporting Clube de Portugal. E dentro em breve, será colocado o sintético no campo de treino anexo ao Estádio Municipal.
A Associação Naval 1º de Maio, é sabido, foi insensato objecto de um projecto eleitoral. Recordo o que sempre disseram velhos navalistas: “voto em Aguiar porque voto na Naval”. Receoso de perder o controlo sobre o que considerava ser o instrumento para a glória política, Aguiar sempre recusou o debate no clube, anulando desse modo soluções para a sua universalidade e mundividência. Entretanto, colocando-o por um fio, deu-lhe uma guinada, que só lhe trouxe demagogia e promessas incumpridas. Reduzida correntemente ao futebol e ao remo, a que se deverá somar liquidação de património e duas das suas mais distintas secções, o basquetebol e o tiro, sobrando para o remo uma espécie de tragédia náutica, e absolutamente vitima, também, da sedimentada falta de ideias para uma actividade desportiva mais universal na cidade. Que a deixou perante falta de instrumentos e equipamentos desportivos mais universais, que pudessem suportar parte da sua actividade e ainda, vítima também, do principio devastador que certa elite associativa citadina carrega, (para sublinhar o “eu”, é preciso secar o outro), o fim prematuro da carreira de tiro, foi o tiro certeiro que suporta a lógica. E escolhendo caminhar sobre um fio muito estreito e sem rede que a ampare na queda, em detrimento de prosseguir segundo a lógica do fio ariande, poderá estar a caminho do patíbulo e sofrer a derradeira tragédia.
Admito, contudo, que possa haver quem a queira puxar a avante, de todo o modo, será tarefa ciclópica, porque no infausto frenesim, se eliminaram os quadros, o que de melhor existe na vida associativa.
Entretanto, neste ínterim, virá o campo sintético, acto minimalista. E eu pergunto: E se a Associação Naval 1º de Maio se extinguir, para que servirá o sintético? Poder-me-ão dizer, como já me foi explicado, fundar-se-á um novo clube que assumirá a herança do futebol na cidade. E então, é assim que se acaba com 120 anos de história?
Pilatos, sabemo-lo, sublinhou a tragédia. Por cá, percebemo-lo, há também, sem remorsos, quem queira lavar as mãos.

Sem comentários: