Augusto Alberto
Dando uso às rotinas, fui tomar o único café do dia e
aproveitei para uma vista de olhos pelos jornais, antes de ouvir a provocação
da esfinge que habita no casulo de Belém, verdadeiramente despeitado perante a
resposta dada pelo mundo do trabalho, que o acossa e o vai, ao arrepio do que
deseja, tirando do sossego.
Na companhia de um companheiro, tínhamos de falar sobre a
greve geral, obviamente. E obviamente, as velhas e relhas reacções boçais. Ali
e pelas tv’s, gente, como no cavaquistão, tem um gosto especial pela canga.
Contudo, ao ainda jovem companheiro de mesa, tive a oportunidade de explicar
que os que hoje fazem a greve geral, são o mesmo tipo de pessoas que durante
quase 50 anos, em condições muito, mas muito difíceis, nunca fizeram outra
coisa senão lutar para restabelecer a liberdade e a democracia, contra a
apatia, o medo e a muita resignação de milhões de portugueses, semelhante à
sua.
Certo é que o fascismo que se julgava inamovível, cedeu,
provando-se que lutando se consegue, ainda que demore tempo. Ai de nós,
adiantei, se nos remetemos à passividade. É certo e sabido que os
“demofascistas” que comandam, pensarão, e bem, que sendo o povo frouxo, só lhes
resta, sem dó nem piedade, concluir o ajuste de contas com Abril. E para
concluir, ainda lhe disse: de pouco servirá a greve e a luta mais geral, se
milhares de portugueses continuarem em dia de voto, a ir para a praia ou a
votar a favor de quem decide destas soluções miseráveis, anulando o efeito da
armazinha que os “demofascistas” nos colocam na mão de 4 em 4 anos, convencidos
de que nunca a utilizaremos a favor de uma pátria mais justa, mas pelo
contrário, construímos com esse voto, democraticamente, a nossa canga.
Se assim for, teremos pela frente mais anos de canga de que
quantos tivemos de fascismo. Definitivamente a conversa ficou escarlate, porque
a verdade é incómoda e só ela é revolucionária. Por isso, é preciso que se
diga, a factura que ai está, não será unicamente paga pelos pais e avôs de
hoje, mas também pelos filhos e netos de amanhã. Aliás, como a factura, pintada
de atraso social e morte, que sobrou por longos 48 anos de fascismo.
Bem sei que para a classe média, que ainda não saltou a vau
para a fome sem ter sido proletarizada, é mais cómodo não aceitar os factos. Contudo,
recordo que muita gente, como por exemplo, no velho cavaquistão do “expresso”,
grisalhos imbecis, como os Henriques Monteiro e Raposo, babam o velho asco
enquanto outros dândis por Lisboa, trabalham para infernizar a minha e ainda,
sempre a tempo, a sua vida.
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