Augusto Alberto
Poderá uma lenda ser reescrita, de modo jocoso, à custa
de uma embebedada súcia? Pode, sim senhor.
Por esta altura Portugal está materialmente e
politicamente dependente de saqueadores, a que os colaboracionistas e capitulacionistas,
chamam mercados. Puseram cerco nas sedes da República. São Bento, sede oficial
do Primeiro-Ministro, atrás da casa da Democracia, onde se sentam,
identificados, deputados vassalos, e no Ministério das Finanças, ao Terreiro do
Paço, com vista para o Cais das Colunas e mar da Palha, onde, amiúde, entram
jactantes e sorridentes, os algozes.
Mas é em Belém, num Palácio com varanda para o Tejo, a
Trafaria e o farol do Bugio, por onde se sumiam os barcos que levaram a minha e
as anteriores gerações para a guerra e chegavam as naus da Índia e do Brasil,
com canela e pimenta, madeiras preciosas e ouro, que a tresloucada e incauta
elite foi sistematicamente malbaratando, que mora uma espécie de rei inócuo,
sem roque, espada e bastão. Colocada a vassalagem ao de Belém, o sem tem-tem, a
Passos, Gaspar e restante matulagem, foi-lhes a 24 de Janeiro de 2013, renovada
a condição da submissão. Deslocaram-se aos mercados, rezam as notícias,
descalços e com um baraço ao pescoço, acompanhado de todos os filhos da nação,
que somos nós, e colocaram-nos ao dispor da agiotagem financeira.
Diz-se que os mercados lambiscados com tamanha submissão,
os mandaram em paz e de volta, mas que mantivessem o Povo de Portugal
sereníssimo e sem algazarras, sob pena de ficar sujeito a mais sevícias. Pela
recompensa da manutenção da boa ordem, que suporta o aprofundamento da infinita
pobreza, serão recompensados, acabada a árdua obra demoníaca, com lugares
fofos, onde lhes tirarão o baraço e o nó que lhes aperta não só pescoço, mas
lhes dá ares de vendidos. Ao de detrás de S.Bento, ser-lhe-á dado o lugar
consentâneo de amanuense. Ao da Praça do Comércio, será um lugar bem acima e em
linha, diz-se, com a inteligência com que capitulou, na administração de um
banco agiota. Não é coisa virgem, sabemo-lo. E ao de Belém, que é o mais baço
dos três flibusteiros, como já entrou no plano inclinado da vida, talvez se
entretenha na quinta, na lambuzadela dos carapauzinhos alimados.
Adivinhasse Egas Moniz o futuro longínquo da nação,
estou em crer, recusaria, simultaneamente, ir a Leão, de corda ao pescoço,
salvar o canastro ao primo, nosso primeiro rei, e ajudar a parir esta terra,
quase sempre entregue a espertalhões e intrujões.
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