sábado, 2 de fevereiro de 2013

Lenda e realidade


Augusto Alberto

Poderá uma lenda ser reescrita, de modo jocoso, à custa de uma embebedada súcia? Pode, sim senhor.
Por esta altura Portugal está materialmente e politicamente dependente de saqueadores, a que os colaboracionistas e capitulacionistas, chamam mercados. Puseram cerco nas sedes da República. São Bento, sede oficial do Primeiro-Ministro, atrás da casa da Democracia, onde se sentam, identificados, deputados vassalos, e no Ministério das Finanças, ao Terreiro do Paço, com vista para o Cais das Colunas e mar da Palha, onde, amiúde, entram jactantes e sorridentes, os algozes.

Mas é em Belém, num Palácio com varanda para o Tejo, a Trafaria e o farol do Bugio, por onde se sumiam os barcos que levaram a minha e as anteriores gerações para a guerra e chegavam as naus da Índia e do Brasil, com canela e pimenta, madeiras preciosas e ouro, que a tresloucada e incauta elite foi sistematicamente malbaratando, que mora uma espécie de rei inócuo, sem roque, espada e bastão. Colocada a vassalagem ao de Belém, o sem tem-tem, a Passos, Gaspar e restante matulagem, foi-lhes a 24 de Janeiro de 2013, renovada a condição da submissão. Deslocaram-se aos mercados, rezam as notícias, descalços e com um baraço ao pescoço, acompanhado de todos os filhos da nação, que somos nós, e colocaram-nos ao dispor da agiotagem financeira.
Diz-se que os mercados lambiscados com tamanha submissão, os mandaram em paz e de volta, mas que mantivessem o Povo de Portugal sereníssimo e sem algazarras, sob pena de ficar sujeito a mais sevícias. Pela recompensa da manutenção da boa ordem, que suporta o aprofundamento da infinita pobreza, serão recompensados, acabada a árdua obra demoníaca, com lugares fofos, onde lhes tirarão o baraço e o nó que lhes aperta não só pescoço, mas lhes dá ares de vendidos. Ao de detrás de S.Bento, ser-lhe-á dado o lugar consentâneo de amanuense. Ao da Praça do Comércio, será um lugar bem acima e em linha, diz-se, com a inteligência com que capitulou, na administração de um banco agiota. Não é coisa virgem, sabemo-lo. E ao de Belém, que é o mais baço dos três flibusteiros, como já entrou no plano inclinado da vida, talvez se entretenha na quinta, na lambuzadela dos carapauzinhos alimados.
Adivinhasse Egas Moniz o futuro longínquo da nação, estou em crer, recusaria, simultaneamente, ir a Leão, de corda ao pescoço, salvar o canastro ao primo, nosso primeiro rei, e ajudar a parir esta terra, quase sempre entregue a espertalhões e intrujões.

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