Augusto Alberto
O Graça foi um bom amigo de
infância. Lembro um rapaz, redondo e loquaz, que, em regra, só parava na
asneira. E por isso, e para os devidos efeitos, conto aqui a história do rato
de chocolate.
Um dia paramos numa confeitaria,
vítima, já, de furtivas visitas. Entramos, e de imediato, percebi a armadilha.
Enquanto chamava o dono, o Graça, sem perca de tempo e rápido como um rato,
outra vez, rapou de uma taça, que tinha um cone feito por multiplos ratinhos de
chocolate, um, e pô-lo ao bolso. Chegou o Sr, e eu, descansado, pedi um ratinho
e paguei. O Sr, depois de receber o meu dinheiro, voltou à taça, contou os
ratinhos, e deu pelo roubo. Foi ao Graça, puxou-o a si e apalpou-lhe o bolso, e
o ratinho quase se esparramou nos calções. Ameaçou chamar a polícia, enquanto o
Graça, com caçoada, olhava para a porta, na esperança de uma fuga. Mas o Sr.
teve-o sempre por um braço. Eu, como bom amigo, paguei-lhe o rato e após um
ralhete, saímos e continuamos na esbórnia. Na rua, despeitado, o Graça, ainda
chamou ao homem, o que Maomé não chamou ao toucinho.
Ora acontece que o Partido
Socialista, a propósito dos estaleiros Navais de Viana do Castelo, é uma
espécie de Graça. É verdade que o Partido Socialista, no governo, não tinha uma
indicação para despedir os 600 trabalhadores. Mas tinha, como indicação,
privatizar e despedir 420. Um pouco menos, a bem da cidade. O PS quer meter a
mão, mas não quer que se saiba. O PS quer meter a mão, mas não quer a coisa
seja esclarecida. Ora porra! Aliás, nem sou eu quem o diz, mas o próprio
Presidente Socialista da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que lamenta
a pouca "veemência" do PS, na defesa de uma comissão parlamentar de
inquérito. O vice-presidente da bancada socialista, Marcos
Perestrelo, manifesta… reservas face à constituição de uma comissão de
inquérito parlamentar sobre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC),
considerando que a prioridade é apurar responsabilidades políticas.
É por estas e outras razões, que quando
em vez, convêm perguntar, neste mundo, o que fazem os ratos? Há os que passeiam
nos sobrados e com as patas fazem um vago rumor que nos irrita. Ainda os que se
passeiam pela relva maltratada. E ainda, os que na foz de um rio, como o meu,
passeiam pelas pedras que forram as margens e se dedicam, com a cauda, a tirar
camarões da água, para a refeição, sem terem de ir ao “gambrinos”. E há ainda,
uns ratões, que se passeiam num edifício, num largo, com nome a condizer. Rato!
E vestem prada, com efeito. E por último, ainda, há, os ratinhos, que se
deslocam para os estaleiros, ensonados, em comboios, barcos e autocarros, com a
vida já feita em “merda”, que de tão deprimidos, quase já nem ao toucinho
chegam.
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