terça-feira, 3 de março de 2009

África minha

Os recentes acontecimentos na Guiné-Bissau, não sendo inéditos, lembra-nos que não há recôndito algum em África onde haja paz e sôssego. Não se deve poder dizer ao certo o que lá se passa sem especular. Tanto podem ser potências estrangeiras a manobrar os cordelinhos, e neste caso há a considerar as democracias ocidentais, motivadas por interesses económicos, comerciais ou mesmo porque a Guiné se transformou num entreposto do narcotráfico.
Em Angola, por exemplo, não há hoje guerra. Mas pela simples razão de os seus governantes estarem devidamente domesticados. Temos notícias, recentes, de que é o país africano de língua portuguesa com o pior registo de violação dos direitos humanos. Outras dizem-nos que há uma situação de fome nas províncias do Sul, nomeadamente no Cunene. Estamos a falar de um dos países mais ricos do mundo, onde já morreram mais de uma centena de crianças devido a uma epidemia de “raiva”.
Tudo isto traz-nos à memória que África é um continente adiado desde o assassínio de Patrice Lumumba às mãos das “democracias ocidentais”. Ele, que disse que a independência política não era suficiente para libertar África do seu passado colonial, era também necessário que o continente deixasse de ser controlado pela Europa. Foi o que ditou o seu assassínio, por intermédio dos serviços secretos americanos e europeus. Belgas, neste caso. E em que o amigo dos “socialistas” portugueses, o “democrata” Carlucci não estará impune.
Adiantando alguns números, da ONU, não meus, para acabar com o flagelo da fome bastaria a módica quantia de 3 mil milhões de dólares. Ora, na guerra do Iraque gastaram-se 12 mil milhões até finais de 2008. Gastos por governos “democraticamente” eleitos.
Sabe-se também, e a história comprova-o, aliás Lumumba é um exemplo, um leader africano que queira mesmo lutar pela real independência do seu país é um homem marcado para… morrer.

E, para não dizer que a culpa é só dos outros, no meio de tudo isto há os “leaders” que se põem a jeito, fazem o papel de meninos obedientes e bem comportados, traindo os seus povos, colocando-se às ordens do capitalismo internacional. E assim se explica a situação daquele martirizado continente.
O escritor angolano Manuel dos Santos Lima traduziu brilhantemente tudo isto num dos seus romances “Os anões e os mendigos”, de 1984, que vale a pena reler. E, em África, devia ser obrigatório nas escolas. Porque.

3 comentários:

Ana Tapadas disse...

Muito pertinente o teu post.
Sabes que estamos a colaborar do meu Departamento (Línguas) com a AMI, para a Guiné.
Não conheço África, mas amo-a, como qualquer alentejano.
Bj

Zorze disse...

Alex,

Muito interessante o post.
Infelizmente a realidade africana é muito complicada e de resolução com elevada complexidade.

Abraço,
Zorze

Fernando Samuel disse...

O Carlucci andava lá pelo Congo quando Patrice Lumumba foi assassinado - se não estou em erro, essa foi, mesmo, a primeira grande proeza dele...


Um abraço.