terça-feira, 11 de agosto de 2009

Angola: um país adiado (croniqueta nacionalista)

Este excelente artigo de Fernando Samuel no blogue “Cravo de Abril” obriga-me a algumas reflexões. Primeiro, porque tive a oportunidade de ver o que ele reporta, via tv, mais concretamente via TPA, a televisão de Angola que passa agora no cabo.
O noticiário das 7 horas da manhã daquele canal ocupou muito perto de vinte minutos com a visita da senhora. Considerei uma chafurdice.
Segundo, porque algumas das anotações feitas pelo referido escriba já eu, por várias vezes, as fiz aqui neste espaço.
O que ressalta é o desplante da senhora Clinton falar de direitos humanos num país completamente dominado pelo seu, onde conseguiu impor um capitalismo selvagem à imagem da América. Só pode mesmo soar a hipocrisia, porque quem está instalado no poder em Luanda sabe muito bem que está de pedra e cal. O que me fez, também, recordar um livro de Manuel dos Santos Lima, “Os anões e os mendigos”.
Como eu escrevi há tempos, neste mesmo blogue, a paz teve para o povo angolano um preço muito alto, que ele não mereceu pagar. Porque a guerra foi imposta.
Do MPLA, eu reclamo-me. Mas deste, estamos conversados. Deste, há muito que perdi as esperanças. Ainda estávamos em guerra e aconteceu o que eu pensava impossível: o MPLA participou numa reunião, como observador, da internacional socialista. O que significa, tout court, que o MPLA aderiu ao império. Na mesma altura, um poeta, nacionalista e ex-chefe de guerrilha, era preso.
Muitos nacionalistas angolanos deram a vida, primeiro contra o regime colonial, depois numa guerra contra o imperialismo. E este acabou por vencer. Mas não é, não pode ser, o fim da história.
Lembro-me que tinha doze anos, e deliciava-me nas praias de Luanda, e apreciava os belos, inacreditáveis e únicos fins de tarde. Não me passava pela cabeça que um outro nacionalista, o poeta António Cardoso, numa cela do Tarrafal, na cela disciplinar, melhor dizendo, aliás onde escreveu muitos dos seus poemas, escrevia estes versos:



Pôr-do sol, em Luanda...
Nesta hora cresce o sol sobre a fortaleza
E paira na cidade mágica beleza
Até a noite se vestir de escuridão…
E sobe o Povo, exausto, leitos de alcatrão,
A caminho de seus musseques-prisões,
Com um resto secreto arfando nos corações…

Não, não chegamos ao fim da história. Faço minhas estas palavras de Luandino Vieira. Apesar de tudo, acho que nunca se luta em vão.

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