Na Festa do Avante de 1999 António Gomes esqueceu-se da máquina fotográfica. Arranjou, como último e único recurso, uma daquelas descartáveis que saíam na coca-cola. Pela tarde solarenga vê dirigir-se-lhe Álvaro Cunhal, acompanhado de vários camaradas.
Enquanto trocam um “olá camarada” e um aperto de mão, Gomes, um condutor de pesados, tem a máquina na mão esquerda e dispara.
O velho revolucionário sorri. Será sempre um sorriso enigmático. Nunca saberemos o porquê desse sorriso. Se pela situação em si de ser fotogradado naquelas circunstâncias, se uma reacção irónica perante a simbólica máquina. Num caso ou noutro terá sido um sorriso condescendente.
O autor pensa que foi a última Festa em que Cunhal esteve presente. Não estou em condições de o confirmar.
Agora a história da foto. A máquina esteve perdida durante anos. Encontrada durante umas arrumações o autor mandou revelar o rolo. Estavam todas estragadas, à excepção desta, mesmo assim parcialmente, atendendo que foi tirada numa tarde de sol.
Fica-nos, para além dos traços inexoráveis da idade, as marcas de uma vida dedicada a uma luta sem tréguas contra o fascismo, de uma vida clandestina, de anos de prisão.
1 comentário:
Exactamente: a Festa do Avante! de 1999 foi a última em que o Álvaro esteve presente.
Mais 89 abraços.
Enviar um comentário