sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um país dirigido por homens sem qualidade

por Augusto Alberto


A bela e maldita Albertina está exaurida. Um abjecto fado, nos antípodas dos títulos que ganhou, soubemos há dias. Eu explico. Albertina Dias, a bela, porque ela contrariou a massa de que são feitas as grandes fundistas. Osso, músculo e nervo. Ao correr dos seus belos feitos, fez-se também uma mulher de rara beleza, que espero os anos e as agruras não tenham destruído. A maldita, porque há muitos anos, a uma pergunta de um jornalista, que com desassombro lhe perguntou: “que homem admira?” - Porque a desassombro se responde com desassombro, respondeu: - o dr. Álvaro Cunhal. Estava assim traçado o destino porque o pecado original, nesses termos, é capital. Desse pecado se falou, muito vagamente, a memória não me atraiçoa, no dia em que chegou de medalha ao peito, campeã do Mundo de corta-mato, e no aeroporto estavam os pouquinhos mais chegados, mais a “puta” da TV pública que foi ao frete. Dos “brutos” que mandam, nem um. Nem aquela bandeira que cobre na hora da partida a nossa heróica selecção de futebol, que em regra, regressa pífia e sem glória. Um bluff! Cá está, ainda, o Fado, Futebol e Fátima, que assombra o país canhestro da mendicidade material, intelectual e moral.

A cidadania, deste modo, é uma espécie de gaivota arreada na praia, com a asa ferida, fruto de um tombo provocado por um vagalhão em tempo de borrasca, que a impede de levantar voo e continuar a fazer pela vida, como aquela que outro dia vi, derreada, à espera do segundo da morte. Mas não se julgue que este é caso único. Eu próprio vi campeões olímpicos a trocarem algumas das suas medalhas por escassos euros. O que quer isto dizer? Que a miséria moral e ética, aqui ou acolá, entrou em delírio. É sabido que uma pátria que não respeita os seus melhores, não é boa terra, e, por isso, José Gomes Ferreira, disse: - viver sempre também cansa. Aparentemente o José tem razão, mas desistir não é próprio e por isso é preciso, em primeiro lugar, explicar aos menos atentos, quem foi Albertina Dias. Foi uma mulher olímpica e três vezes medalhada em Campeonatos do Mundo de corta-mato. Bronze, Prata e Ouro obrigando a que uma lágrima nos escorresse pela pele. E ainda dizer que o seu pecado original e capital não pode ser razão para vender a casa onde vive e licitar na rede as suas medalhas por 70 mil euros, para barrar a infelicidade, antes pelo contrário. E ainda acrescentar que gente com os mesmos méritos, que abdicou e teve a habilidade de passar a palma da mão pelo pó do poder, leva uma vida de bem-aventurança e de boa pança. Então a gente às vezes interroga-se: - que estranho país é este, que exige que se abdique, para se ter paz? E eu respondo. É um país dirigido, sem dúvida, por homens sem qualidade.

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

O título diz tudo!
Beijo

Guimaraes disse...

Nem qualidade nem vergonha na cara.
Dão-se boas prebendas a quanto vigarista há, colocando-os até em altos lugares, e não há uma ajuda para uma mulher que levou o nome do país aos mais altos pódios.