segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Natal. Uma sugestão para prendinha. E os tradicionais votos.



Pepetela é um dos grandes romancistas de língua portuguesa, com lugar de destaque na literatura lusófona. Foi vencedor do prémio Camões em 1997.
Numa época em que o país está ocupado, nada melhor para sugerir como prenda de Natal que o seu mais recente romance.
A acção passa-se em Angola, no século XVII, altura em que Portugal está sob a ocupação filipina. Uma situação, aliás, vivida actualmente, embora o ocupante seja outro. Aqueles pouco dados à História e que não se lembrem dos Filipes, não estranharão muito devido aos tempos actuais, perfeitamente similares.
Poder-se-ia dizer que o passado revisita o presente. É que está lá tudo, os colaboracionistas, os sobreiros, as sucatas, os bpn’s, embora os cenários e os adereços sejam outros.
É um pedaço de história que vale a pena relembrar, condimentado com o estilo irónico a que o escritor benguelense nos habituou.

Para os visitantes da “aldeia”, mesmo os colaboracionistas (fascistagem incluída), aqui ficam votos, não propriamente de um bom Natal, deixemo-nos de demagogias, mas do melhor Natal possível.
E aí vai uma prenda cá da "aldeia": os primeiros 3 parágrafos da obra em referência. Deliciem-se:

"Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho de puta.
O maior filho de puta que pisou esta miserável terra. Pisou no sentido figurado e no próprio, pisou, esmagou, dilacerou, conspurcou, rasgou, retalhou. O filho de puta admito ser apenas no figurado, pois da mãe dele pouco sei, até dizem ter sido prendada senhora e de bem. Embora quem tal crocodilo deixou crescer no ventre pomba não deveria ser, afirmam os entendidos. Mas mereço eu, desgraçado padre, julgar o ventre de donas bem casadas?
Ventres não se julgam, dão frutos, alguns podres."

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