Augusto Alberto
Há dias, a propósito da canícula, apreciei a resposta de uma
senhora cantoneira de limpeza, na cidade de Évora à jornalista de serviço: “Então como vai o tempo? Está muito calor,
disse. E não usa protector? Não minha santa, não há dinheiro para protectores”.
Eu bem me parecia que o problema do povo é a falta de brilho e protector. Mas
vejamos como brilham e foliam os antípodas.
A propósito da anunciada greve dos controladores aéreos e
pilotos da aviação civil: - “Usar o momento mais importante para o turismo para
fazer greve é um atentado à economia, aos trabalhadores em geral e ao país.
Tanto mais que se trata de profissionais muito bem pagos”. Discorreu, assim,
com imaculado brilho, o deputado ao parlamento europeu, Paulo Rangel. E
apreciem, agora, o que noutro lado se escreveu: “A
viagem e o jantar, a bordo do barco Douro Azul, fretado pela Câmara Municipal
do Porto, para a noite de S. João, de onde foi possível assistir ao fogo de
artificio, pela meia noite, ficou este ano, por 16.776 euros”. O cruzeiro
camarário, contou com diversas personalidades. O Presidente da República, o
anfitrião, Presidente da Câmara Municipal do Porto, o ministro da saúde, Paulo
Macedo, o eurodeputado do PSD, Paulo Rangel… Estão a ver? Quem, quem são os
protectores do protegido deputado europeu, Rangel, quem são? Sua excelência, o
Cavaco, mais o anfitrião, Rui Rio. Cá está. Nesta pátria, sem brilho e
protector, dificilmente se vai além de cantoneiro com salariozinho de 450
euros. Mas com brilho e protector, é possível apreciar o S. João, a bordo do
barco hotel do Ferreira, evitando apertos e marteladas nas cabeças com
alho-porro e martelinho de plástico.
-À barca, à barca burgueses, que aqui ninguém se atira ao
mar. Vai carregada de champanhe, porto, porco, “porcos”, sardinha, pimentos e
outros bons manjares. Ao leme vai o Rio e o Cavaco a capitanear e o burguês
Rangel a mamar. E que dizes tu, cangalheiro e gajeiro Macedo, aí do mirante da
proa? Digo que este país não é para velhos. Adiante, que aqui brilham estrelas.
E o que vê daí meu Presidente? Vejo o povo ignaro acantonado e sacrificado. Mas
que fique por lá e nós por cá. E que faça o que dizemos e não faça o que
fazemos.
Toca a bombar! Boa vai a folia.
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