Augusto Alberto
Deu à praia uma baleia anã. Apareceram mirones, mais o
técnico que explicou as razões prováveis para o desafortunado desenlace. Por
ventura emalhada numa rede de um barco de pesca, não resistiu e acabou cadáver
na praia da Figueira da Foz.
Olhando sobre o cadáver da desventurada e sem medo de juntar
semântica à dialéctica, tenho a aspereza, e a estultícia, de comparar a baleia
anã ao país, que tem uma cidade, com uma grande praia, a praia do relógio, que
eu chamo local dos infortúnios porque mesmo ao lado, está amortalhado, há mais
de 40 anos o cargueiro Hera, que por razões de bojo, e de atitude, escrevia, é de sobejo também um pais anão.
Por presunção, sublinho que a anã morreu emalhada e, por
certeza absoluta, Portugal foi emalhado pela burguesia dominante, que o levou
para a União Europeia, para se colocar a salvo de escolhos, ainda que as razões
a que apelou para justificar essa opção, tenham sido a de o colocar no pelotão
da frente da nações europeias. Lembram-se? Milongas, em que acreditaram milhões
de aselhas, descobertas, todavia, com o passar do anos. Contudo, apesar das
mentiras e da vida duríssima, a burguesia dominante continua sem freio,
contorna obstáculos e lança as artes, enquanto o povo está enredado nas malhas
lançadas pela canalha da Europa e do Internacional Monetary Fund.
O Banif, diz-se, vai receber do erário público 1 Milhão e
cem mil euros para se recapitular. Novo cambalacho! E as sete maiores fortunas
de Portugal, no ano em que milhares de portugueses jorraram pelas pedras das
calçadas, embrulhados em farrapos e cartão, aumentaram a riqueza em 13%. E
Vítor Constâncio, toupeira, socialista puxa saco e tecnicamente vesgo, por
opção de classe, actualmente a ocupar o lugar à direita da santa finança
europeia, não entregou no Tribunal Constitucional, a prova dos seus
rendimentos. Contudo, o cidadão não deve esquecer que enquanto Constâncio se
fez de sonso e a baleia anã, se deu à morte num lugar fraterno, os portugueses
foram encurralados pela grande burguesia dominante e, lê-se, voltam sem brio e
vínculo a França, às mesmíssimas parcelas, onde sovaram os nossos infaustos
avôs, para trabalhar mais horas e por menos dinheiro.
Se ainda usa cueiros e não imagina o que foram os
“bidonvilles”, pergunte a quem saiba e se não houver quem lhe explique,
pesquise. Verá, como neste mar eriçado e de redes traiçoeiras, está a ser
entregue às mãos de um manhoso sucedâneo do capitão Ahab, aleivosado de arpões,
que depois de o ter na corda, vai puxando, devagar, devagarinho, até ao aperto
final.
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