Augusto Alberto
Um povo sereno e às ordens, moldado por estupores e
espertalhões, que lhe desenvolveram características de resignação,
inevitabilidade, inveja e truques muito imperecíveis para sobreviver, como
acreditar em milagres, nas possibilidades do funambulismo alternativo, ou, tão
só, dividir a sardinha por dois. Mazelas, que são o reportório da elite, que
quase nada mudou ao longo de séculos. Para exercício de denúncia, cito
Alexandre Herculano, e a sua história sobre a inquisição.
Desde logo, é
preciso caracterizar a cabeça da elite, à época, D. João III…um príncipe
ignorante e fanático, dominado por padres e hipócritas, e que tomara por
principal mister de rei perseguir a porção mais rica e industriosa dos próprios
súbditos …arruinando o país, abrindo o campo a todo o género de imoralidades. E
um Povo encarreirado nas preces. Primavera de 1506… era a peste…Faziam-se preces públicas…houve
quem cresse ver aí …uma luz estranha. Espalhou-se logo a voz do milagre…durante
quatro dias a crença no prodígio foi ganhando vigor…recresciam
suspeitas…achava-se…um cristão-novo ao qual escapou da boca manifestações
imprudentes de incredulidade acerca do milagre…dois outros frades, um com uma
cruz, outro com um crucifixo arvorado…bradando, heresia, heresia!... Queimai-os!...
Nessa praça foram queimados nessa tarde trezentas pessoas… E
desviado do seu papel principal, para que esteja sempre às ordens e tolhido
pelo medo de mudança, submete-se. Qualquer
viagem de el-rei era um verdadeiro flagelo para os povos por meio dos quais
transitava. A imensa comitiva de parasitas de todas as ordens e classes
devorava substância dos proprietários e lavradores. Mantimentos, cavalgaduras,
carros, tudo era tomado, e os detentores ou não pagavam ou pagavam com escritos
de divida, divertindo-se os cortesões, muitas vezes, em destruírem os frutos as
fazendas … contente de aumentar as dificuldades económicas com a manutenção de
frades e obras dispendiosas …desbaratava a fazenda do Estado com mercês de
dinheiro, verdadeiramente pródigas, feitas a cortesãos afeiçoados…
História sobre uma Nação amorroada, ideologicamente apertada
ferreamente pela elite, que por sua vez, refinada na mentira, está bem e não
precisa de um país diferente. E para que se não duvide, em referência ao FMI,
que é simultaneamente capataz e o mosquito que pica e suga um patamar acima dos
outros, Portas, que se péla por vestir a pele de “demiurgo”, sobre a
“refundação” fez a rábula do sonso. Soubemo-lo no que à matéria social diz
respeito, pensões ou abono de família, os “cristãos”, alinhados pela história,
deixaram o seu risco e aquiescência. Com as devidas ressalvas, a elite católica
que sobrou do “cerejeirismo”, liderada pelo látego do Caldas, a coberto do
tacticismo político e do crucifixo, quase repete os gritos de 1506, dos frades
de S. Domingos. Esganai-os! Esganai-os!
O que fazer? Esganar a base eleitoral da corja.
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