domingo, 18 de agosto de 2013

O gosto do Rosalino por jumentos e pastelinhos de bacalhau

Augusto Alberto


 O fascínio pela descoberta levou Amundsen, e os seus cães, à terra fria do pólo norte e à glória, como se sabe, enquanto por cá, o povo que passou numa praia perto de casa, com uma mala térmica numa mão, carregada de pataniscas ou pasteis de bacalhau, contados e numerados, porque é preciso balizar logo à saída de casa os apetites provocados pelo mergulho, não vá o mais novo da prole atacar à tola o petisco e deixar os mais velhos a chupar no palito, e na outra, o chapéu-de-sol, porque os meios já não dão para a inigualável barraquinha, que protege da nortada, se atira à água fria e de regresso, regressa, avante o pleonasmo, à frieza da vida e acabrunhado como um cão, metáfora do abandonado, porque essa coisa de ir para o Algarve e além-mar, foram viagens que acabaram, o inenarrável secretário de estado Rosalino, fascinado também pela descoberta, descobriu que as pensões de aposentação da função pública devem estar alinhadas pelo valor do crescimento económico.
Se o crescimento for negativo, o valor da pensão baixará. E como o mais certo é a economia continuar sem crescer, sugiro que comece, cidadão, a fazer fila, após os serviços de jantares dos restaurantes da sua terra, para ir catar a vianda nas sobras lançadas ao latão público, que o manterá, pela manhã, ainda a mexer os dedos dos pés. Se crescer acima de 3%, pois então, a sua pensão amarinhará. Bondade de Rosalino.
Pois eu permito-me sugerir ao Rosalino do raciocínio frio e mão quente, que aplique, retroactivamente o que propõe, a si e à canalha. Que se vão, varados pelo frio e pelo asco, porque há muito tempo fizeram a economia encalhar no glaciar.
Na verdade, Rosalino mão quente, o que pretende, é compensar o roubo de uma pensão mensal, que o Tribunal Constitucional não permitiu, após um amplo movimento institucional e cívico. Mas saiba o cidadão, que a sua pensão não é uma dádiva do Rosalino, mas um direito construído ao longo de uma vida contributiva.

Contudo, enquanto vai andando para a praia mais perto de si, Rosalino e a restante tropa fandanga, magica e alarga o raio, para melhor alcance da mão e sem respeito, prepara-se para pilhar a sua arca, mostrando à evidência, que a canalha, para além de um apetite dionisíaco por swapps, o fascínio por jumentos alimentados a 310 euros, tem também fervor por pastelinhos de bacalhau. E por animaizinhos sem espinha, nem queira saber.

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