Augusto Alberto
Viva quem é demasiado cobarde para solucionar o que decorre
da atitude complacente e colaboracionista e deseja, através de lei, resolver as
tribulações entre o puritanismo e a promiscuidade. Cito a questão da limitação
de mandatos autárquicos. Com efeito, como a lei é cega, para lá de pretender
capar quem no poder local se porta mal, castiga também os cidadãos
escrupulosos, e não é por acaso. Por isso tem razão quem entende que os que
cumprem não podem ser elevados à categoria de ferrabrás, enquanto, pela sua
parte, o eleitor, dá o voto aos que borram a coisa pública. Ou não é verdade
que tem sido o povo a eleger cidadãos a contas com a ética e a justiça e que,
inclusive, em Oeiras, prepara a eleição de um cavalheiro que está na cadeia?
E se quer outro exemplo da pérfida, cito uma lei datada de 27
de Outubro de 1984, era primeiro-ministro Mário Soares e vice primeiro-ministro
um tal Rui Machete, (o de negócios particularmente especiais), que deu entrada
na Assembleia da República sobre a proposta de lei n.º 88/III, que regulou até
2005, e ainda produz efeitos nos vivos, e são alguns, o estatuto remuneratório
dos titulares de cargos públicos. O PCP, pela voz do seu deputado, José
Magalhães, (mais tarde um admirado trânsfuga), disse: inaceitável é ter havido
no actual quadro social e político, uma iniciativa governamental…que corrobora
os altos vencimentos governamentais e que aumenta escandalosamente os
vencimentos dos deputados, não considerando…o que isto tem em relação ao prestígio
da Assembleia da República e ao cabal exercício das nossas competências. Com
estes dois exemplos, ficamos, então, a perceber o modo como o povo estabelece
namoro com alguns sujeitos em cargos públicos, que vagamente abjura, ficando,
contudo, na esperança que uma lei, em regra subtilmente cega e que não pune,
porque é redigida por quem transgride, traga a sanção politica, que em boa
verdade, deveria ser de sua exclusiva responsabilidade.
Contudo, antes de terminar, remeto o leitor para a leitura
de “Lolita”, de Vladimir Nabokov, que trata, também, de posse, da relação
promíscua e puritanismo. Em todo o caso, se é uma alma agitada, tenha cuidado,
porque a leitura do romance pode provocar algum formigueiro e euforia na zona
da braguilha, aliás, nas antípodas, como se prova, com o que sente no cú,
quando elege “branquinhos” para cargos públicos. Medo! Ou ainda não percebeu,
que quando vota em cangaceiros e “branquinhos”, leva?
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