Augusto Alberto
Deu-se a revolução de Abril e a pobreza perdeu a vergonha.
Bateu às portas de uns e de outros, e à minha também, apesar de ser, também,
porta de pobre. Contudo, nunca perdi o equilíbrio, porque o meu tino disse-me
para nunca fazer empréstimo à banca, para não ter de ser engolido por filhos da
“puta”, nem ter despesas correntes com seguros, pneus e gasolina e por isso,
fiz a opção pelas pernas, com os pés no chão ou nos pedais.
Mas ia a lembrar que, com regularidade, me chegava à porta,
um jovem, a quem servia pão com manteiga, nunca o enganei, marmelada e fruta.
Um dia, a minha vizinha, descobriu que o rapaz lambia a marmelada e atirava o
pão à valeta, e aconselhou-me a acabar com a lambarice, porque o moleque era de
má pegadura. Deixe vizinha! O pobre também tem direito à escolha. Infelizmente,
a minha vizinha nunca deixou de voltar à carga, porque não consegue ver a boa árvore
no meio da péssima floresta e por isso, agora, acha que se deve acabar com o
“rendimento mínimo”, porque alimenta a cultura da inacção e do vício. Veja!
Como na “tablete”, ela lambisca as noticias. Mas alambisca-as...disse-lhe. Não
me diga que acha bem? Nem bem nem mal. O que acho é que a vizinha só se
escarnece de gente que no seu modo de ver é borra-botas, porque quanto às
elites, ainda que façam do roubo uma arte, são doutores. Mas deixe, porque por
mais que queira, ainda não atinei com o modo de lhe reduzir o preconceito.
Todavia, tive que recolher a chávena do café e puxar para o
lado o jornal do dia, para não ter de lhe dar razão, porque a notícia dizia: -
O presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Matosinhos…insurgiu-se
contra o pagamento de 1172 quotas em atraso no valor de 11.066 euros…as quotas
foram pagas por um morador de um bairro
social de Perafita. A carta refere, ainda, que da listagem de militantes
com as quotas agora pagas, há pessoas que já morreram…
Noticias como estas provam essencialmente que o
anticomunismo é a papa e o bolo que alimenta o tolo. Capelo Rego, transportou
malas cheiinhas de notas, a um banco, na baixa pombalina, a favor do Partido de
Portas. E hoje, no P.S. do Porto, num bairro pobre, com toda a naturalidade,
ocorrem habilidades à moda de Salazar, que metem, chapeladas, quotas pagas por
mortos e votos das sombras.
Contudo, apesar de na Soeiro Pereira Gomes se cultivar a
mais estrita responsabilidade, aparecem amiúde, sebentos, escrevendo umas
palermices, que é o modo mais canalha de bajular a elite de “Césares e Ratos”
de igreja, que afinal, não têm em “deus” o guia, mas no esmagamento dos pobres,
na fuga aos impostos e no jogo da bolsa, a ímpia metamorfose da conduta
liberal.
Não sei se é desta que a vizinha me entende…
1 comentário:
marxismo-cultural???
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