Augusto Alberto
Pararam os comboios e a vida parece andar ainda mais devagar. A C.P., a grande empresa dos comboios, coberta pelo poder político, mais uma vez, tratou de isolar gentes em total desrespeito pela vida e oportunidades. Fez de Pilatos. Lavou as mãos. Os comboios nas linhas do Corgo e Tâmega também foram para a garagem, tal como na linha do Tua. Das linhas de Trás – os – Montes e do Douro, só resta esta, que há muitos anos acabava ou começava em Barca de Alva, na fronteira. Hoje fica-se pelo Pocinho, pequena povoação que dá nome à barragem ali construída há cerca de 30 anos. O que resta da linha, está completamente votada ao abandono e com os espanhóis a mostrar, repetidamente, interesse pela reabertura com vista ao turismo, mas com demorada resposta.
Pocinho é um pequeno lugar, à volta de um pequeno bairro que suportou os trabalhos e os trabalhadores que construíram a barragem, e por ali, o tempo anda muito devagar. Meninos até aos 10 anos, os dedos de uma mão são suficientes para os contar, enquanto os velhos vão partindo deste mundo, que nunca lhes foi meigo.
A linha do Douro assume uma beleza impar, sobretudo a partir do Pinhão e logo após a foz do Tua, rio que dá nome à linha fechada, tem escarpas tremendas, bocados de beleza selvagem, onde aves de largo porte correm aproveitando os cones de ventos e em plena liberdade. Pocinho é assim, não só o lugar do fim da linha, mas também do fim da vida e dos sonhos.
O caminho-de-ferro para ali levado por força do capitalismo rural do século 18, por figuras como D. Antónia, para dar resposta às necessidades das grandes quintas emergentes, como por exemplo, a do Vale Meão, parece hoje também condenado. Não sei se já não estará escrito, num caderno, que num dia qualquer, de um qualquer ano, tudo acaba.
Nos anos 60/70 do século anterior, multidões foram até Lisboa e era comum, solidariamente, numa noite serem levantadas paredes e telhados, para acolher famílias inteiras, num acto consumado. A habitação era assim resolvida e o fascismo muitas vezes fechava os olhos porque ele próprio não tinha como arranjar saida. Foi o tempo das grandes obras da ponte sobre o Tejo e do metro e para ali caminharam, para fugir do esquecimento, Transmontanos, Beirões, Alentejanos e outros vários. Foi o princípio dos bairros desgarrados. Seria legitimo que com o 25 Abril as coisas tomassem novo rumo e as pessoas retomassem os seus lugares de origem, mas acontece que não houve retorno, antes pelo contrário, o caminho parece inclinado com fim no mesmo local de sempre.
O caminho-de-ferro tem cedido lugar ao betuminoso e as auto-estradas, tão legítimas, será, não chegam para alterar a sina. Afinal, produzem o efeito não de chegada, mas sempre de partida. O tempo da exaustão ainda não chegou ao fim. Falta pouco! Continuam a partir, os que ainda tem coragem e força, ficam os que já perderam a esperança. Uma vida carregada de vago, e em que o tempo é escorrido num café, com a barriga encostada ao balcão, bebendo cerveja, garrafa sobre garrafa.
Mas estas coisas têm rostos e nomes. São todos aqueles que durante estes 35 anos nos têm desgovernado. Apetece perguntar, para que querem aquelas gentes esta democracia? Engano sobre engano, e confesso que já não sei como essa gente, despida de sonhos, tem forma de punir os responsáveis.
Pocinho é um pequeno lugar, à volta de um pequeno bairro que suportou os trabalhos e os trabalhadores que construíram a barragem, e por ali, o tempo anda muito devagar. Meninos até aos 10 anos, os dedos de uma mão são suficientes para os contar, enquanto os velhos vão partindo deste mundo, que nunca lhes foi meigo.
A linha do Douro assume uma beleza impar, sobretudo a partir do Pinhão e logo após a foz do Tua, rio que dá nome à linha fechada, tem escarpas tremendas, bocados de beleza selvagem, onde aves de largo porte correm aproveitando os cones de ventos e em plena liberdade. Pocinho é assim, não só o lugar do fim da linha, mas também do fim da vida e dos sonhos.
O caminho-de-ferro para ali levado por força do capitalismo rural do século 18, por figuras como D. Antónia, para dar resposta às necessidades das grandes quintas emergentes, como por exemplo, a do Vale Meão, parece hoje também condenado. Não sei se já não estará escrito, num caderno, que num dia qualquer, de um qualquer ano, tudo acaba.
Nos anos 60/70 do século anterior, multidões foram até Lisboa e era comum, solidariamente, numa noite serem levantadas paredes e telhados, para acolher famílias inteiras, num acto consumado. A habitação era assim resolvida e o fascismo muitas vezes fechava os olhos porque ele próprio não tinha como arranjar saida. Foi o tempo das grandes obras da ponte sobre o Tejo e do metro e para ali caminharam, para fugir do esquecimento, Transmontanos, Beirões, Alentejanos e outros vários. Foi o princípio dos bairros desgarrados. Seria legitimo que com o 25 Abril as coisas tomassem novo rumo e as pessoas retomassem os seus lugares de origem, mas acontece que não houve retorno, antes pelo contrário, o caminho parece inclinado com fim no mesmo local de sempre.
O caminho-de-ferro tem cedido lugar ao betuminoso e as auto-estradas, tão legítimas, será, não chegam para alterar a sina. Afinal, produzem o efeito não de chegada, mas sempre de partida. O tempo da exaustão ainda não chegou ao fim. Falta pouco! Continuam a partir, os que ainda tem coragem e força, ficam os que já perderam a esperança. Uma vida carregada de vago, e em que o tempo é escorrido num café, com a barriga encostada ao balcão, bebendo cerveja, garrafa sobre garrafa.
Mas estas coisas têm rostos e nomes. São todos aqueles que durante estes 35 anos nos têm desgovernado. Apetece perguntar, para que querem aquelas gentes esta democracia? Engano sobre engano, e confesso que já não sei como essa gente, despida de sonhos, tem forma de punir os responsáveis.
3 comentários:
Conheço bem toda essa zona do Pinhão e mais acima, do Pocinho, por lá passei dezenas de vezes no tempo em que para se chegar a Tràs-os-Montes se demorava 1 dia inteiro. Por força do anual périplo familiar, de Viseu seguia por trancoso, Vila NOva de Foz Côa, atravessava o Douro no Pocinho em direcção a Mirandela.
Como vi no outro dia num programa televisivo, alguém dizia que em mais de cem anos apenas foram construídos cerca de 1000 kms de linhas (nos finais do séc. XIX existiam cerca de 2500 kms), enquanto temos actualmente 4000 kms de auto-estradas.
Sem querer pôr em causa a validade da existência de estradas julgo que o futuro deverá estar nos caminhos de ferro, aposta que aliás é comprovada por países de patamares económico/sociais bem mais avançados, mas por cá, pelo que se constata, em vez de se investir no transporte público de qualidade e particularmente no caminho de ferro, desmantelam-se ramais e deixam-se ao abandono outros. Típico do 3º mundismo.
Saudações do Marreta.
Não conheço a zona...por isso saboreei o teu ponto de vista! Parabéns e obrigada pela partilha e, também, pelas palavras amigas.
beijinho
Todo o meu apoio à opinião expressa. O transporte ferroviário é o mais económico e mais ecológico. O problema da ferrovia nacional é que a administração CP foi sempre asilo de afilhados políticos incompetentes em matéria de transportes, desistiu das cargas e ficou sem rentabilidade, uma vez que os comboios de passageiros são deficitários por definição.
Enviar um comentário