quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Não é, rapazes neo-liberais?

Augusto Alberto


Se dúvida houvesse quanto à pertinência do estado social, elas ficaram amplamente desfeitas com o debate entre Francisco Lopes e Cavaco Silva. Ah, sim! Que não reste a mínima dúvida.

Pode ser uma mama que alimenta os avençados do regime, por ora muito caladinhos, porque no calado é que vai o ganho, como os doutores Freitas do Amaral ou António Vitorino, por exemplo. Ou o modo como o estado, através da Caixa ou do orçamento da nação, que somos nós, vai a correr salvar um banco que foi roubado por gatunos de colarinho branco, amigos do presidente, aliás, de quem se diz ter ganho também uns cobres em momento oportuno, por ter sido avisado a tempo.

A história do “bpn” e do “sln” é por demais conhecida, contudo, fica sempre bem lembrar quem são e o que fazem os ladrões, postos ontem a nu com toda a clareza. São marginais com casa em condomínio fechado, alguns na quinta da Marinha. Que se fazem deslocar em carros de topo e que consomem em restaurantes referenciados no guia Michelin. Por isso, são marginais de 5 estrelas, conselheiros de estado, gestores da banca e de mil grandes empresas, com lugar cativo no teatro da ópera da capital, onde afinal dormem os marginais sem nenhuma estrela, enrolados em caixas de cartão, tendo por tecto a sacada do teatro, ao contrário dos de 5 estrelas, sem que o estado social lá chegue. Nas noites carregadas de frio e chuva, recebem, por caridade, a visita das muitas legiões da boa vontade, que lhes levam um cobertor, um prato de sopa quente, um pãozinho com manteiga e um café, para aconchego. E já na noite do próximo dia 24 receberão uma fatia de bolo-rei com frutinha cristalizada polvilhada de farinha muito branca, um mimo, como convém nesta quadra de amor e paz. Vejam as tv’s na noite de consoada, para que não restem dúvidas.

Estes marginais não se socorrem dos meios do b.a.c.f. (banco alimentar contra a fome). Porque o marginal de 5 estrelas tem, antes, a prioridade de roubar quem neles confia, pelo voto ou pelo cash, e feitos sacanas, ainda tem tempo e lata para enviar uns cartuchinhos de arroz ou açúcar para os armazéns da Isabelinha, porque a caridadezinha e água benta sempre ajudam à pureza da alma. E os que não têm nenhuma estrela, esses, já nem força têm para lá chegar.

No debate de ontem, o presidente Cavaco mostrou porque é um sujeito hirto. Porque posto perante os factos, não gostou de ser associado a marginais de 5 estrelas, que são quem paga a sua campanha. Mas não tem modo de fugir. Ele é um deles. Há um velho ditado que diz: “Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele”.

Entretanto, logo após, veio a corte de opinadores do regime, bem pagos, mais uma vez, dizer que afinal aquilo foi um empate, salvando o Cavaco ao soar do gong. Por isso é meu desejo aqui dizer que estas corjas de comentadores também não passam de uns empatas, porque não montam nem deixam montar, mas que com esse seu jeito, dão um sério contributo para que esses marginais de 5 estrelas nos estejam permanentemente a cobrir.

Estamos no reino comandado pela corja, por isso bom povo português, o que mais falta te faz, antes de tudo, é um pouco de tino, capaz de te ajudar a sair deste estado físico lamentável a que chegaste, por culpa tua também, porque acreditaste que com estes marginais de 5 estrelas ao leme serias feliz. Mas prepara-te, porque a procissão só agora começou a andar e nem as estararolas ainda se ouvem.

Não é, rapazes neo-liberais?

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