segunda-feira, 27 de maio de 2013

O poder na sua forma mais pura

Augusto Alberto 

O apogeu da patetice. Ou as coisas são atávicas e pronto! Isabel Jonet, que revelou uma atracção pela celeste caridade, na sequência da pobreza, vai no dia 10 de Junho do corrente ano fazer o laudo aos soldados mortos na guerra colonial, a convite da comissão organizadora das comemorações do dia 10 Junho.
Um convite e distinção, em linha com o país dos lorpas e das açordas, não a que se designa por cozinha “grumet”, mas a que substitui a carne e o peixe, como nos velhos e novos tempos do latifúndio e da praça da jorna. Ou já nos esquecemos? Eu também poderia enfileirar na longa lista dos mortos da guerra, contudo, por alguma arte e sorte, fiquei longe dos lugares de batalha, diminuindo a probabilidade de me colocar em numerário. Embarquei no Boeing, a cheirar a novinho, no dia 21 de Fevereiro de 1972, com destino à Beira e de lá, fui posto em Nampula, de onde não sai durante os 24 meses, depois de fintar o lugar original, em Palma. Regressei, inteirinho, no mesmo avião, no dia 24 de Fevereiro de 1974.

De todo o modo, no equipamento que me foi destinado estava a chapinha de identificação, para o caso da morte. Esse foi o período voraz, do ponto de vista militar, e a seu propósito Kaúlza de Arriaga escrevinhou um livro, amplamente divulgado em Moçambique, mas pouco comprado, em que teve a coragem de assumir, então, a perda da guerra, dada a distensão dos factos no terreno. Mas essa é questão que para aqui não interessa. Aqui, desejo reflectir em como poderia ser um dos gloriosos soldados a ter dado a vida pelo império. E como no sossego, passados 40 anos, reagiria às palavras de circunstância da Isabelinha. De pronto, achei a resposta. Subiria ou desceria, conforme o meu repouso fosse na terra ou no céu, e colocar-me-ia por detrás da Isabelinha, devagar, muito devagar, não seja ela mulher assustadiça, e dir-lhe-ia ao ouvido, suave: “Gosto em ouvi-la, Dona Supico Pinto. O seu Movimento Nacional Feminino, continua um emblema. Belíssimo e sentido laudo. Muito obrigado!” .
Evidentemente, não sei como a Isabelinha reagiria. De todo o modo, sei pelo menos uma coisa. São os fingidos, os filhos e os netos do fascismo, apesar dos cravos, quem por cá continuam a mandar.

Como Salman Rushdie, a propósito do devastador desastre de Bhopal, acabo, com a mesma certeza que ele tem do poder. No seu caso, do grande império Americano, no meu caso, no da corja e dos sacanas… “é o poder na sua forma mais pura…não o vemos”,  - no caso da Índia, (aqui, só por cegueira, adormecimento, preconceito e patetice, é que não queremos ver),- mas ele fode-nos completamente.

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