Augusto Alberto
A escrita de João Ubaldo Ribeiro é das melhores das
Américas. Ubaldo Ribeiro, é Prémio Pessoa. Viva o Povo Brasileiro, é a obra
principal. E no romance “O Feitiço da Ilha do Pavão” atinge o píncaro do
hilariante, com a cena que descreve a noite em que se dá por achado o feitiço,
porque o mestre de campo, Borges Lustosa, se deslocou à casa paroquial para
dispor do padre Tertuliano, posto a quatro, contudo, imprevidente, o segredo
ficou na boca do índio Balduíno, meio escravo mas de boa prosápia e melhor
colhimento, à força manter o segredo e viver os restos dias na abundância.
Garcia Marquez e Jorge Amado são de outra paisagem. De cariz
urbano. “Amor em tempos de cólera” e “Quincas Berro D’água”, devem ser lidas,
porque falam do amor, no primeiro, sereno, no segundo, desbragado.
Também me agrada a escrita de Vargas Llosa, prémio Nobel da Literatura
e lapidado reaccionário. Llosa, bem tenta mas não consegue desenhar um quadrado
fora do círculo. Tanto denuncia o liberalismo selvagem como de seguida se
enredar na volúpia do preconceito e afronta a história, porque espera que se
auto regenere. O seu “Sonho do Celta”, é contudo um bom romance.
Roger Casement, irlandês e cônsul britânico, leva quase toda
a sua vida a denunciar, na passagem do século XIX para o XX, as atrocidades da
escravatura sobre negros e índios, tanto em África como nas Américas. Sobretudo
no Perú. Foi vítima do seu impulso humanista e libertário, a favor da causa irlandesa.
É enforcado pela coroa britânica, por traição e também por intolerância
homofóbica.
Entretanto, apesar de estarmos num tempo em que parece
impossível, de sopapo, chegam novas notícias da escravatura. Informa o Ministério
do Trabalho e Emprego do Brasil, que, durante o ano 2012, 2.849 trabalhadores
foram resgatados de situações análogas às dos escravos no século XIX. Um
aumento de 14% face ao ano de 2011. Os escravos chegam predominantemente, da
Bolívia, do Perú, (ainda!), do Paraguai e do Haiti. Será desejável que alguém
decida usar o computador e aproveite este material abundante, e escreva sobre a
escravatura do século XXI, à moda do século XIX, ainda por cima, se essa
escravatura ocorre num dos países de maior crescimento no conjunto da economia
global deste século?
De todo o modo, mesmo
que fiquemos somente pela notícia, há um lado que me fascina. Ali por perto, em
Cuba, não existe o material abundante, que aqui se descreve, provando afinal,
em como a Ilha, apesar de pobre, leva vantagem politica, social e moral. Pois
é! O preconceito é tramado. Tanto pode dar para ficar à mercê do diabo, como
para ficar em posição de 4, como sucedeu ao padre. É a vida.
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