segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Os cavaleiros das tristes figuras

Augusto Alberto

Vai grande discussão e alguma indignação no mercado do peixe em Aveiro, a propósito de um objecto fálico de grandes dimensões, exposto junto às bancas do peixe. Ainda por cima, logo ali ao lado da Igreja de S. Gonçalinho, que se festeja em Janeiro e de onde se atira ao povo, do alto do Zimbório, cavacas, que o povo aproveita para se lambuzar. É o caralho! Do Gaspar, do Álvaro, do Passos, do Seguro e do Alberto João, essas coisas materiais, que cavalgam sem arrependimento, sobre o país dos basbaques.

Parece que no país que não acaba, o jet set, de quando em vez, cai em cenas decadentes. Dizem que aquela figura macilenta e desfigurada, acadelada em roupas de mulher, mais uns empresários, que não sei se enriqueceram nos tempos em que Cavaco foi primeiro-ministro, porque nessa altura, para enriquecer só era preciso ser pato bravo, se colocaram na posição de quatro patas, aos beijos e aos chupões. Sugiro que o novo canal de televisão, que sairá da privatização da RTP, se dedique a estas histórias, porque ou muito me engano, ou o país recatado, que solfeja padre nossos e ave marias, não enjeitará, à socapa, pela calada da noite, o voyeurismo, numa espécie de adultério pobretana e intelectual, a condizer.
E para dar bem a ideia de como vai a nação, vou contar como há uns dias corri no areal que ainda hoje me enfeitiça, a praia da Barra. Sempre que lá vou, tenho de ir em corrida lenta até à Costa Nova e voltar. Nem de propósito. Corria eu, quando de repente em sentido contrário, passa por mim um cidadão, em tanga e também a correr, mas com a particularidade, não sei se da crise que está instalada, a tanga de tão encolhida já não continha um colhão. Este cidadão, que eu não conheço, evidentemente, de tão espremido, ainda corre, mas já nem se dá conta, pelos vistos, de que traz os colhões à mostra.
É o país dos cavaleiros das tristes figuras. O Povo amorrinha. Uns gostam de objectos fálicos, outros gostam mais de cavacadas, mas muitos já trazem os colhões de fora e bem espremidos, enquanto alguma elite se diverte em festas de arrebenta. Este país não é para pobres e tristes, mas unicamente para o chico espertismo, que continua de saco cheio.
Salvam-se as notícias de que hoje toma posse o novo bispo de Bragança e Miranda, em clima de grande comoção e euforia, e que um dia destes reunirá o Conselho de Estado. Sempre me pareceu que o país piedoso e o país decadente continuam de mãos dadas.

Sem comentários: