segunda-feira, 6 de maio de 2013

O tartufista Miguel


Augusto Alberto

Está prestes a bater o pau para dar início ao teatro da vergonha, segundo as pancadas, não as de Molière, mas as do senador da Figueira da Foz, Miguel Almeida. Espectáculo, que não correrá nos sítios fechados habituais, 10 de Agosto ou a Figueirense, mas, com a inocência que esperam, pelas praças e ruas do concelho. Nesta cidade, que faz da sua avenida oceânica e da sua respectiva praia a única oportunidade de estar no convívio ou na mais prosaica actividade física de baixa intensidade. Marcha ou corrida lenta, pesca lúdica, recolecção de mexilhão, ripagem de perceves, arrancados na zona da primeira rebentação, ainda habilidosos na arte do bicheiro, com que enganam os polvos, ciclistas de baixa rotação, em regra bem equipados e meninas mais ou menos notadas, consoante vai o tempo. Não fosse assim, esta seria a terra em que viver seria uma estucha.
de F. Campos

Ora acontece que ainda antes de Abril, um figueirense de gema e cotado, num impulso fascizante, criou um imundo cais comercial, mesmo em frente à esplendorosa e mundana Avenida Saraiva de Carvalho. Mudou-se a urbe ribeirinha, mas o vício de escavacar manteve-se.
De tal modo, na terra onde cresceu o pato-bravismo e outros actos coevos, ainda respiram responsáveis por esses actos sofridos. Assim, o tartufista Almeida, santanista de boa gema, quer montar um teatro eleitoral, com vista a fazer esquecer actos de gestão apócrifos, nacionais e locais, como a queima de euros nos arraiais do S. João, a derrota manhosa de um dos actos de cultura de fim de verão, o festival de cinema. A coisa é de tal monta que o vereador, ex-deputado da República e dirigente do Partido da rotatividade local e nacional, PPD/PSD, que quando calha, mete trancas e pregos à porta e chuta na democracia e nas liberdades, aparece agora, como cabeça de um movimento, que se destina a enrolar o passado, de nome genérico,”Somos Figueira”.
Almeida, espécie de diácono dissoluto, com vergonha do passado, lança esperanças nos resquícios à obediência, matriz cerzida por 300 anos de tribunal do santo ofício e 48 anos de fascismo. É capaz de ter razão. Atavismos adiante, já vamos com mais 30 anos de missas cantadas, segundos rituais dos novos santos ofícios ”democráticos”. E pelos vistos, ainda temos para mais 300.
Quer-me parecer, medrosos e obedientes cidadãos, que os teus quinta netos ainda vão ter de lacrimejar. Ai vão, vão…

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