Augusto Alberto (texto e foto)*
Londres está a arder! Vai gente ao Malecon e vem com baldes cheios de água para atirar para cima das chamas, e os bombeiros empurram carroças com latões, porque faltam os meios adequados ao combate aos fogos e por isso, as chamas não param. Havana velha está nas mãos de jovens sem eira nem beira. A Bodegita del Meio, lugar mítico, onde Hemingway bebia uns mojitos, foi saqueada.
A polícia chegou tarde e não conseguiu sequer que, ali ao lado, o lindíssimo edifício Baccardi, herança do deboche americano, fosse poupado. Os acessos ao Capitólio foram barrados por centenas de jovens, com cartazes a reivindicar melhor apoio social e médico, porque diziam, não há quem aguente o preço do acto médico. Os médicos cubanos são impreparados e chulos, gritava-se. Uma mãe berrava que o filho tem o ventre dilatado da fome e não sabe quando tem escola e tem medo da ida e do regresso a casa, porque pedófilos atacam à luz do dia.
Entretanto chegaram ministros e outros quadros do partido, para ver como tudo está partido. O mais novo dos Castros foi vaiado em frente ao edifício da delegação dos interesses americanos e, ao que se diz, o mais velho dos Castros ficou furioso, porque muitos cubanos davam vivas ao liberalismo americano e alguns exigiam, inclusivamente, o êxodo. Segundo relatos da imprensa da Flórida, refugiados cubanos estão a preparar o regresso, liderados pelo finíssimo Pousada Carriles, inimigo estomacal do regime castrista. Fala-se à boca cheia de um novo desembarque à moda da Baía dos Porcos. Aliás, parece que o Museu da Revolução foi saqueado e que o famoso
painel que colava Bush pai, Batista e Pousada Carriles à estupidez e cretinice, percorre agora as ruas de Havana enfeitado com cravos brancos e um ramo de oliveira.
Inclusive, Cienfuengos e Santiago enviaram delegações para juntos dos revoltosos. Uma fonte anónima, relatou que a estrada que liga a estância de Varadero a Havana foi tomada por jovens de cara tapada, que recusam passagem a turistas estrangeiros. Aliás, alguns foram sequestrados às portas da Cidade de Matanzas, a cidade em que a juventude, às dezenas, faz da vela, sem custos, o seu desporto favorito e por isso é chamada a capital da vela.
Mas a cena mais patética nesta total barafunda, foi o teatro bufo, montado junto ao velho palácio de Fulgêncio Baptista. Mulheres, algumas já bem roliças, sobre um estrado, ensaiaram uma cena de vermelhinha, póquer, mojitos e deboche, para reivindicar o regresso de chulos, gangsters e borracholas. Diz-se à boca cheia que o guerreiro Carriles trará consigo Bush pai, Bush filho, alguma dúvida quanto à presença da senhora Clinton, embora garantam que já tem quarto preparado no colonial Hotel Nacional, mas parece certa a presença de Arnold Schwarzenegger, o governador que faliu o estado da Califórnia, que montará logo ali uma cena de chapada e pontapé, numa imitação do herói triste.
Aliás, é patético o modo como a tropa não reage, porque muitos comandantes abdicaram e deixaram os soldados entregues ao acaso.
E eu, que agora estou cansado, vou fazer uma folga e prometo voltar, para relatar mais histórias das cidades que ardem, Paris, Madrid, Atenas, Londres, Cairo, Argel, Tunes, e, até Oslo.
(*Museu da Revolução, em Havana)