Augusto Alberto
Qual é a diferença entre Cuba, Egipto, Argélia e Tunísia? Por mais que matutemos, não há coincidências. Cuba bateu o pé ao império e tratou de dar ao seu povo o possível e logo todo o mundo ocidental e livre, achou ali uma ditadura, com os americanos em perseguição aguerrida. Egipto, Argélia e Tunísia, países agora na corda bamba, governados durante dezenas de anos por generais torcionários, que conviveram amenamente com os regimes democráticos e livres do ocidente, em especial dos franceses e americanos, que neste preciso momento ensaiam a rábula da calma, da resposta proporcionada, dos abstrusos direitos humanos, etc. El Baradei foi prémio Nobel da paz e sujeito pouco firme em desmontar as tretas do Bush, que levaram à invasão do Iraque. Perito e presidente da agência mundial de energia nuclear, chegou ao Cairo para tirar proveito das confusões nas ruas, disse. Que papel vai desempenhar? Será que ao homem, os amigos deram nova missão? A de capitalizar os movimentos de rua, que se dão para o torto e se alastram até às corruptas monarquias, como a Arábia Saudita, Emiratos Árabes, a Jordânia, etc, vai deixar o Ocidente em muitos maus lençóis. Está ali um bico-de-obra, porque isto não é só montar nos desgraçados durante décadas, sem que daí não resultem consequências. É que as democracias ocidentais durante anos não avaliaram bem as consequências das vagas de miseráveis que durante décadas desembarcaram ou sucumbiram antes de chegarem às suas belíssimas praias. Já sei que ai vem a treta do costume contra os islâmicos radicais. As fugas em frente nunca explicam nada.
É exactamente por tudo isto que às vezes ver e ouvir Hugo Chavez é um verdadeiro delírio. Há uns dias atrás, foi um gozo ver Chavez sentado em frente de uma assembleia, onde decerto se discutiam coisas importantes para as pessoas e lhes disse: “esperem um pouco para ver como um sujeito habituado ao negócio da especulação, vai ser metido na ordem”. Não é normal um senhor presidente da banca, habituado aos negócios especulativos e de casino, a viver no conforto dos salões, ser gozado à frente de milhões de pessoas, porque a TV tem esse privilégio, desta feita a contra gosto de nossas excelências, os marajás. Bastou um lamento e Chavez teve a coragem de colocar o representante do capital num patamar abaixo das necessidades das pessoas. Mal habituado, o cavalheiro tem de saber que, ou está ali para ajudar, ou não precisa de ali estar, como bem disse o presidente venezuelano. Estivemos perante uma cena da melhor arte da comédia, digna de um título: senhor do capital especulativo posto no patamar abaixo.
Para meu gosto, Hugo Chavez é panfletário demasiadas vezes, mas não é um militar que esteve e está contra o seu povo, como todos os generais e coronéis, amigos das democracias ocidentais, que agora estão à perna com povos que no norte de África e no golfo, resolveram dizer basta. Só agora a água começou a descer a montanha e por isso tratem quanto antes de achar alternativas, ou os cães sair-vos-ão à estrada.