Augusto Alberto
Minha pátria é a língua Portuguesa. E uma menina, que emigrou sem retorno, diz: - a pátria é o local onde vivo e onde me nasceu o filho. E ainda, a minha pátria é também esta minha praia de Buarcos, de água fria e vento, onde me banho. O tacto, os sabores e os sons, desta minha amiga conseguem identificar duas pátrias. Será justo perguntar porquê? Creio que Leonel Messi, com uma clareza pouco habitual no mundo do futebol, que irritou quem só consegue pensar com a biqueira da bota, consegue explicar:
“Comecei a jogar futebol muito pequeno. Não tive outra infância que não a do esforço para chegar até onde eu sabia que queria chegar. Pelo meio aconteceu o impensável. O meu físico não se desenvolvia… A única solução era um tratamento muito caro, fora do alcance da minha família. Procurei apoios na Argentina, o meu país, mas não os encontrei. Com os meus pais bati, em vão, a muitas portas. Ninguém queria arriscar num pequeno rapaz. Até o River me fechou as suas portas, pensando que não valia a pena. Nesse momento um clube estrangeiro interessou-se por mim. Investiu tempo, dinheiro, médicos. Manteve a minha família para que estivesse próxima de mim. Sem apressar o processo, formaram-me e por último comecei a jogar. Com organização e trabalho não saltaram nenhuma etapa”.
Com efeito, Leonel Messi, com toda a clareza explica que com muita regularidade a pátria não passa do lugar onde abrimos pela primeira vez os olhos e tomamos os primeiros cheiros e sons e pouco mais. Nesse caso, a pátria que não consegue dar os meios para que se realizem os sonhos, obriga muitos milhões a procurarem nova pátria. E às vezes, inclusive, essa pátria arma em parva, como armou com aquela velha mãe, que em frente de meus olhos, em 1967, desfeita em soluços, foi à Rocha de Conde de Óbidos esperar o filho que chegava da guerra, porque tendo emprestado à pátria dois, a Pátria só fez regressar um. Aquela velha mãe a quem a pátria roubou um filho, esqueceu-a sempre, porque um pouco mais tarde, o filho que voltou correu de novo para longe, porque foi preciso procurar noutra pátria os meios que a pátria que levou, inclusive o irmão, não lhe deu.
Pois então, caro Messi, saibamos ler as coisas. Práticos, dizem os Americanos: - para a pátria, mais a minha comissão de 10%. E para que os 25 mais ricos de Portugal tivessem acumulado mais 17.4 milhões de euros, é preciso que o povo das reformas de 200 Euros tenha um acrescento de 5 euros. Ou o modo prático de dizer, que a distribuição da riqueza nesta e noutras pátrias, decerto também na tua, é um escarro e é por isso que muitos de nós para realizarmos os sonhos, desde há muito, necessitamos de outra pátria.
Até quando caríssimo Messi? Que sejas feliz.