quinta-feira, 30 de junho de 2011

A cultura é fodida


Por via disso mesmo é que um filho da puta, já há um bom par de anos, disse que quando ouvia essa palavra sacava do revólver. O dramático da questão é que esse tal tem, ainda, muitos apaniguados.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Vai inseguro e trapaceiro

Augusto Alberto

Da lírica camoniana, lemos sempre com infindável gosto a cantiga de Leonor, que diz: - “descalça vai para a fonte Leonor, pela verdura; vai formosa e não segura…descobre a touca a garganta, cabelos de ouro o trançado, fita de cor de encarnado…tão linda que o mundo espanta! chove nela graça tanta… que dá graça à formosura; vai formosa, e não segura”. Isto é da monumental obra de Camões, Português maior, ainda que para ele a pátria tenha sido azeda. Aliás, é atavismo, porque para nós também.

Ao arrepio da beleza da lírica de Camões, anda por ai um citado António José Seguro, menino que cresceu sem nunca dar um ai, de fita cor-de-rosa pálido, sobre pétalas já esbranquiçadas, sem graça, inseguro e trapaceiro. Aliás, na linha de anteriores e actuais correligionários de “partido”. Seguro, inseguro comporta-se como os que venderam água chilra em vez de perfume de pétalas de rosa. Ainda assim, por uma vez disse uma verdade, que nos deverá remeter, sem a menor hesitação, para o campo da insegurança. Desconfiemos pois deste inoportuno Seguro, que nos diz que veio para pugnar por um capitalismo com ética. Vejam como nele continua descalça a desgraça, como as desgraças que caíram durante os reinados do socialismo em liberdade, do socialismo de rosto humano, do socialismo democrático, da terceira via, e por fim, desta quarta via, que afinal, eureka, é, até que enfim, a da ética no capitalismo.
Seguro quer ainda fazer a experiência de por as raposas à frente do galinheiro, com a tranca levantada e a porta entreberta, na esperança de que a raposa se contenha e não vá por ali a abocanhar. António José, no seu fatinho de cinta de esbatida rosa, menos branco do que a neve pura, tonto, sem formosura e não seguro, quer em definitivo fazer de nós parvos, pelo que vai sendo tempo, de a estes meninos, que nasceram, cresceram e tem a presunção de continuarem jovens, contudo, sem nunca terem dado um pio, sendo afinal, por isso, já velhos, de os deixar a falar com os seus ecos, porque, afinal, neles não chove graça.
Caminhemos, sim, para a fonte, pela verdura, formosos e seguros, e sem este cinzento “seguro”, que nos aldraba e tenta.

Cartonn de F. Campos

Os Ovimbundos falam umbundu



Os Ovimbundos, ou “povo do nevoeiro”, também conhecidos por umbundus, por ser o umbundu a sua língua, constituem mais de um terço da população angolana, sendo o grupo cultural mais numeroso. Ocupam as regiões do planalto central, embora muito provavelmente sejam oriundos das regiões mais a norte.
Entre outros dos principais grupos etnolinguísticos angolanos encontram-se os Bakongos, do norte, os Quimbundo, da região de Luanda ou os lunda-quiocos, estes do leste do país e conhecidos pelo seu talento artístico.
Durante a guerra de libertação os três movimentos mais destacados tinham mais implantação nuns ou noutros grupos culturais. Assim, o MPLA identificava-me muito mais com os quimbundos, a FNLA com os Bakongos e a UNITA, muito porque Savimbi era ovimbundo, com este grupo do planato.
Penso que, de entre todos, o mais transversal a todos os grupos étnicos terá sido o MPLA, muito possivelmente o movimento com uma dinâmica mais nacional, e nacionalista, já agora. A UNITA nunca se livrou de uma característica tribalista que não se coadunava com uma guerra de libertação nacional. Seria, portanto, mais fácil para o MPLA conseguir simpatizantes fora das suas zonas de influência, do que qualquer dos outros movimentos, bem como lutar por uma identidade nacional.
Não cheguei a estas conclusões através de pesquisas ou de leituras, foi pela vivência.
E vem tudo isto a propósito do que acabo de ler num recente livro sobre a História do PCP na Revolução dos Cravos, com este mesmo título. Penso que será gralha, mas leio isto:
“O MPLA tinha muita força na capital de Angola, Luanda, e tinha uma liderança “urbana, esquerdista e racialmente mista”. As suas raízes eram cerca de 1,3 milhões de umbundos que habitavam em Luanda e no interior. Tinham o apoio da União Soviética. A UNITA, apoiada pela África do Sul e Estados Unidos, liderada por Jonas Savimbi, tinha a sua base em dois milhões de ovimbundos do planalto central de Benguela”.
Portanto, gralha ou não, o preço a que estão os livros devia proteger-nos de semelhantes enganos.
Ainda sobre os ovimbundos, e só para terminar, o historiador René Pélissier, na obra “História de Angola”, escrita com Douglas Wheeler, escreve:
“O nacionalismo ovimbundo não parece ter tido o mesmo impacto sobre as massas rurais que os movimentos bacongos ou até o MPLA, orientado para os quimbundo”.

10


10 até podia ser um nome de um novo aperitivo. E, se calhar, até é mesmo só um aperitivo.
O que não concordo é com a falta de rigor da imprensa que temos. Diz ela que estas são  "as 10 medidas que ninguém estava à espera".
É uma terrível e imperdoável falta de consideração pela inteligência das pessoas. Pelo menos 78,42% do eleitorado que se expressou no passado dia 5 do corrente não só esperava como ansiava.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Porque o sal há-de salgar...

Dona Pica

Augusto Alberto

De quando em vez, passam pelo mundo uns tipos carregados de pica. Sabemos que um foi santo, mas outros nem por isso. Vejamos então. Francisco de Assis, pregador de Jesus, nascido dentro de um estábulo, em Assis em 1181, descendente de uma família de ricos comerciantes, teve a sorte de nascer logo com pica, porque foi tocado logo à nascença, com pica, pela bela D. Pica, sua bondosa e extremosa mãe, que o educou na rectidão e no amor ao próximo.

 Por cá, entretanto, também anda um Francisco de Assis, carregado de pica, qualidade que nunca deixou, mesmo nos períodos mais azedos da sua vida, e sobretudo na que melhor conhecemos, a sua conduta como líder da bancada parlamentar do Partido Socialista. Infelizmente nesse seu período, a pica nunca o iluminou para o bem, como iluminou o Assis de Assis. Antes pelo contrário. Este nosso Francisco de Assis usou a pica em contramão, para desenhar o pior do destrambelho do reinado de Sócrates e restantes socialistas, onde naturalmente se inclui. E para mal dos nossos pecados, este nosso Assis continua por ai, pregando em alta e vulgar pica, do mesmo passo, ilusões e o seu contrário, o que configura uma tortuosa equação, que por norma não acaba bem, para além de deixar a impressão de que a pica com que interveio no reinado do Sócrates, nada teve a ver com ele.
Sendo assim, este Assis tem muito de “esperto e chico” e pouco de “santo”, e de remissa, com natural obsessão para o abismo. No breviário dos seus dias, não passa de mais um tipo que insiste em fazer batota, porque ao arrepio da boa pica, continua a papaguear coisas já muito batidas, que tem como único objectivo branquear o modo como ele e o seu “partido” são responsáveis pela fome que por ai vai, e pior ainda, aponta, ainda e sempre, ao cumprimento de políticas que nos vão levar à desgraça. Afinal continua, à semelhança de muitos outros seus “camaradas”, um vendedor de pomada jibóia.
De facto são necessárias roturas, mas não aquelas que para aí anda a vender. Sendo assim, o que quer este Assis? Quer utilizar a pica para chegar ao degrau mais alto do altar, de onde os “socialistas” têm andado a imolar os carneiros da pátria.


Cartoon de F. Campos

sábado, 25 de junho de 2011

Não vale a pena tácticas adoçantes

Augusto Alberto

Flor Pedroso, editora de política da Antena 1, fez recentemente uma entrevista, que merece meditação, a um dos principais gurus da política portuguesa, Rui Machete. Machete é um celebrado homem de direita, com passagem por altos cargos; - ministro, administrador do banco de Portugal e depois ainda, presidente da fundação luso-americana, de onde saiu com péssima avaliação por parte do embaixador americano.
De entre as celebradas vulgaridades, disse que o P.C.P. tem gente meritória e que possui uma força de rua incomparavelmente superior à sua influência democrática, ou seja, à sua expressão na Assembleia da República, pelo que nestes tempos de dificuldades, eu que nesta matéria não sou tão elevado, digo fome, seria muito útil que o P.C.P. fosse capaz de controlar a rua.

Evidentemente que esta entrevista foi a pedido e coube a Machete fazer o frete e ser a voz do dono e, por isso, deverá suscitar os seguintes comentários. Quem sempre controlou eleitoralmente as massas e os seus movimentos, foi o partido socialista mais a sua correia de transmissão, a UGT. Mas agora que o partido socialista esta arrumadinho no lado direito do capital e com reduzida capacidade para continuar a endrominar, o Bloco de Esquerda colocado em fim de estação, após ter cumprido a sua tarefa táctica de não permitir o crescimento eleitoral do PCP, sem se ver no horizonte um novo Otelo, uma nova Pintasilgo, um PRD e mais um Alegre, a direita vem confessar que tem medo da rua e já imagina as barbas a arder.
Então, neste entremezzo, enquanto não ajeitam um novo truque, sugeriu Machete, que o P.C.P. se domestique e alivie a luta de rua e de classes. Este patético apelo de um homem que contribuiu de modo seríssimo para este descalabro, de um comunista só poderá ter a seguinte resposta: gostem ou não os polidos homens da direita, a guerra também se fará nas ruas, e sem dúvida, com consequências. E não vale a pena tentarem tácticas adoçantes, inclusive por dentro, para amolecer os comunistas. Já foram tentadas e deram no que deram. Num Partido demasiado incómodo, ao contrário do desejado. Por isso, apetece-me terminar, dedilhando aquela frase já muito batida: - “assim se vê a força do PC”.
De qualquer modo, dr. Rui Machete, tenha certeza de que faremos tudo para que o seu belo automóvel não seja molestado.

Cartoon de F. Campos

Dos cardeais patriarcas

Fernando Samuel também não gosta de cardeais (já somos dois). Depois de explicar porquê apoiado em muitas e variadíssimas razões, diz que não adianta mais. Mas já chegam:



sexta-feira, 24 de junho de 2011

O ianque desvalido

Augusto Alberto

Um motorista de camião que transporta latas e garrafas, entre cidades, com um pai-natal florescente, pintado nas lonas, sem meios para debelar as suas dores de coluna, que vão até ao pé, teve a racional ideia de assaltar um banco, levantar uma pequena folha de papel A4, a pedir unicamente 1 dólar e esperar calmamente que a policia o transportasse para a esquadra, onde, sentado no catre, esperou pela visita de um médico que lhe apontasse a solução para os seus males.
Falo de um homem de 59 anos, e como provavelmente já percebemos, condutor de um camião de distribuição da Coca-Cola, a quem o sonho americano não deu os meios necessários para ter um seguro de saúde e por isso, como nos disse, racionalmente, ajeitou o modo de ter uma consulta, ainda que para isso possa ser privado da liberdade, que a Coca-Cola, cola ao sonho americano por 3 anos.
Mas acontece que a história chegou rápida ao fim. Imagino que o bom do americano foi atirado ao lixo, como se atira a lata vazia de Coca-Cola, porque logo foi posto em liberdade, sem ter tido a consulta de que tanto necessita.
Mas imaginemos que a notícia, dizia assim: - um homem cubano, com 59 anos, sem seguro de saúde, assaltou um banco, levantou uma folha A4 onde estava escrito “só quero 1 peso”, e esperou calmamente que a policia castrista o levasse à esquadra, onde espera ter a visita de um médico, que indique a solução para os seus apoucamentos. Logo diriam os labregos: - estão ver como se tratam as dores em Cuba? Na esquadra.
Mas dêem-me o direito a desalinhar. E por isso vos digo: - que se o homem com dores de coluna em Cuba não precisa de um seguro privado nem de ir à esquadra, o homem da Coca-Cola, precisa urgentemente de um visto para uma viagem à ilha, onde poderá, seguramente, tratar dos seus males, à semelhança de muitos outros americanos e bons algarvios e alentejanos.
Aliás, nos Estados Unidos, há um ianque, que pode ter a chave. Refiro-me a Michael Moore, sujeito muito rotinado a levar americanos a cumprir o grande sonho, não na América, mas em Cuba.
Ai liberdade, liberdade, porque deixas tu, mais a Coca-Cola e o pai natal, mais o sonho americano, um bom ianque inválido e desvalido?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A cretina comédia

Augusto Alberto

A comédia que une Portugal e Grécia é divina e cretina. A fazer fé na imprensa, sabemos que o actual ministro das finanças da Grécia é um tipo pouco apreciado pelos Gregos, e por isso de baixo cartel, porque foi um alto quadro político e administrativo com responsabilidades na péssima gestão dos Jogos Olímpicos do milénio, em Atenas/2004.
Sabemos que muitas das estruturas dos Jogos de Atenas sem indicação para serem reutilizadas, foram abandonadas e vandalizadas, porque afinal, festa é festa e após a festa, sobram os cacos e as dividas. Ficou-nos na retina o verdadeiro caco em que se tornou, por exemplo, o grande complexo das piscinas olímpicas. 

Eu que vivi por dentro o formidável complexo olímpico de Pequim e sei o modo como foi reutilizado após os Jogos, concluí que Evengelos Venizelos, responsável pelo desastre estrutural e financeiro dos jogos olímpicos de Atenas, continua deslumbrante, após ter sido promovido a ministro das finanças do país que ajudou a arruinar e por isso se lhe dê abraços e beijinhos pelos salões de Bruxelas, em vez de se lhe partir os dentes.
António Gueterres, católico e socialista e Durão Barroso, maoista e peixe de águas profundas, estão associados às decisões políticas acerca do Campeonato da Europa de Futebol de 2004, que em fúria, percorreu o litoral do país e que depois da festa, tal como na Grécia, sobraram as dores.
Em Leiria e Aveiro, estádios que esperam a venda ou demolição e o do Algarve, onde de quando em vez passam automóveis a todo o gás, são o claro exemplo de decisões cretinas.
Detalhes separam Grécia e Portugal. O olímpico grego, aceitou, contudo, o fel de ser ministro das finanças, que ajudou a colocar na lama. Mas ao Guterres, deram-lhe árdua tarefa de olhar as curvas da Angelina, quando juntos, vão em visita aos que não tem voz. E ao Barroso, a chiquérrima tarefa de flanar sobre as melhores alcatifas da Europa.
Gente que desbarata comprovadamente o interesse público, deveria explicar as suas decisões e a seguir ser punida e impedida de continuar a enxovalhar os povos, para evitar que a república se torne numa comédia.
Não nos queixemos, pois, por sermos figurantes desta sórdida coisa divina, em que ser socialista, católico ortodoxo ou romano e peixe de águas profundas, compensa.

Paulinho Santos vs. João Pinto, versão light

Este blogue e este blogue fizeram-me lembrar o Barcelona. E fiquei intrigado porque não tem nada a ver. Talvez a expressão tiki-taka, não faço ideia.
Devido ao civismo e à diplomacia colocadas em campo não posso dizer que não me tenha divertido.
Sou amigo pessoal do autor do primeiro que linkei e não conheço pessoalmente o autor do segundo, mas como posso provar que nunca copiei num exame para magistrado, estou à vontade, e tenho autoridade, para absolver os dois.
Podem, então, continuar a divertir-me.

E a regionalização, pá?


Foi sempre uma suposição minha que a regionalização era, e é pois não deixou de ser, uma inevitabilidade. Um imperativo, mesmo. E urgente.
 Quando ela foi referendada, e reprovada, acho que não fizemos mais do que temos o hábito de fazer: adiar a História.
Isto será o primeiro passo? Lembrei-me porque seria uma consequência lógica da regionalização. Curiosamente não é por acaso que vem através de um partido que, se bem me lembro, defendeu o NÃO no referido referendo.
Agora, por imposição externa, o que significa que a nossa independência já era, "descobre" que se poupa uns valentes trocos. 
Só que a "poupança" não é para benefício do país, do estado, das populações, da sociedade....
Enfim, né?

terça-feira, 21 de junho de 2011

O comité do Nobel da paz também é criminoso

Augusto Alberto

Infelizmente o tempo continua de feição para putas e prostitutos que, nas vielas do poder, conspiram sobre o melhor modo de atrapalhar o mundo. A essa conspiração dão o nome de democracia, em boa verdade não passando de um barrete que nos enfiam, ao ponto de nos provocar cegueira.
Apesar da minha letra ser de burro e por isso não chegar ao céu, vou sugerir, contudo, ao Tribunal Penal Internacional que considere, ainda este ano, no exacto momento em que o comité Nobel estiver reunido a decidir, em Oslo, sobre a quem entregar o prémio Nobel da Paz para o ano de 2011, a prisão e posterior julgamento da totalidade desse comité, que decidiu em ano anterior, atribuir esse prémio Nobel da Paz a um tipo que se coloca todos os dias, ao arrepio da paz, fazendo a guerra. É o único modo dos povos serem ressarcidos do ponto de vista moral, dos danos provocados a mando desse criminoso, que, sabemos agora, faz tábua rasa, inclusive, das leis do seu próprio país.
Como é sabido, o Tribunal Penal Internacional não tem jurisdição sobre cidadãos norte-americanos, mesmo que cometam os mais bárbaros crimes contra a Humanidade, porque a administração americana, precavida, negou em devido tempo, o rabo à seringa. Apesar de ser sabedor desse princípio, o comité Nobel insistiu na atribuição desse prémio, ao máximo responsável do país que está permanentemente de mal com o mundo, por razões de superioridade logística e influências politica, cultural e material. È aplicação prática do velho ditado popular: - de que deverá ser preso, tanto o que rouba a vinha, como também o que fica à porta a vigiar. Por isso, o comité Nobel que não é atoleimado nem anjinho, deverá ser obrigado a prestar contas, do sério contributo que deu para branquear tamanho bandoleiro. Será útil que esse tribunal, que é uma merda, deixe de ser aquela coisa que só julga os vencidos e passe também a julgar os vencedores, que usam a pérfida e a mentira como suporte para a agressão e destruição.
E depois, que apareça gente séria a explicar como também muitos politólogos e analistas deveriam ser metidos a ferros, por cumplicidade moral nas barbáries.

sábado, 18 de junho de 2011

José Saramago partiu há um ano




“A democracia é uma realidade que não existe. Quem verdadeiramente manda são instituições que não têm nada de democráticas, como é o caso do Fundo Monetário Internacional, as fábricas de armas, as multinacionais farmacêuticas”.

Cuidado Castro

Augusto Alberto

Se um Farinãs resolve fazer uma greve de fome e se recusa a ser tratado e alimentado, logo o logro aparece em todo o resplendor. O regime castrista é uma nódoa, os Castros uns dinossauros, e o socialismo uma coisa repulsiva que só consegue viver pela força.
Mas se trabalhadores dão ao corpo ares de arte, contra a empresa que depois de pança cheia, resolve levantar toda a linha de produção e partir para outras partes, isso não é democracia, é comédia. Porque democracia é a possibilidade que cabe à ABB, uma multinacional com milhares de funcionários em todo o mundo, decidir suprimir a fábrica que nos últimos três anos facturou mais de 30 milhões de euros, porque acha que pode partir para outra parte do mundo onde há novos pretos capazes de multiplicarem a facturação para 60 milhões.
Esqueçam tudo sobre estabilidade familiar e social e aprendam a penar, porque hoje está a ser elevada à categoria de arte. Para quem não sabe, a extraordinária ABB, foi a empresa encarregue de desnacionalizar o nosso aparelho produtivo, para a seguir encerrar essas empresas e tornar-nos, nessas áreas, dependentes das sua próprias empresas no exterior. Quem sabe bem disso é a canalha que hoje mora em Belém e ri em S. Bento.
Saibamos então, que a ABB não perde os bons vícios. Mas mais, se uns tipos se juntarem em Madrid, Barcelona ou Lisboa, para uma arruaça, não é democracia. Democracia é aguentar sem tugir e mugir, em vez de nos juntarmos e sermos infiltrados pela polícia, empurrados à força de cacete e do músculo e até pelos carros da ordem. Mas se a arruaça se confundir com a agonia do capital especulativo, como na Grécia, dir-se-á que horror.
Afinal a Grécia é uma democracia, porque foi governada em rotatividade, ora pelo Partido Socialista ora pela Nova Democracia, que agora estão a apresentar a rotativa factura. O que querem? Não foi assim que os Gregos decidiram? Sem dúvida, até ao dia em que no meio da tragédia grega, um figurante observou, como nunca antes – O nosso drama é que durante 30/40 anos andamos a votar erradamente. Tarde, claro está.
E agora?
Pois agora estamos a pagar a factura de considerar, desde 1990, como mau tudo o que o socialismo construiu e ajudou a construir. Os vencedores tomaram o freio nos dentes, continuam em processo de limpeza e se pensam que vão parar, desenganem-se. O ajuste de contas será até ao levantar da pele. Em breve saberemos como vai ser contado o escalpe à portuguesa. Se em forma de escárnio e mal dizer, literatura de cordel ou revista à portuguesa?
Contudo, aconselho desde já que não se deposite demasiada esperança na virgem, porque sabemos de fonte segura, que a senhora nunca deu vista a quem é cego, audição a quem é surdo e voz a quem é mudo.
Cuidado Castro, olha que esta democracia, de virgem ofendida, é uma manta curta.

Espectáculo!!!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

PAPA-AÇORDAS

Augusto Alberto

A Lei das Sesmarias veio responder a um contexto de crise económica... que a peste negra veio agravar. "D. Fernando, pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve… Considerando que por todas as partes de nossos reinos há falta de alimentos, de trigo e de cevada, de quais ante todas as Terras e Províncias eram muito abastadas... estabelecemos e mandamos que todos os que têm herdades sejam obrigados a lavrá-las e a semeá-las; e se não o puderem fazer as dêem a um lavrador que as lavre e semeie de modo que as herdades que sejam para dar pão sejam todas lavradas e aproveitadas e semeadas de trigo ou cevada ou milho. Mando ainda que todos os vadios sejam presos e obrigados pela justiça a servir na lavoura ou em outros mesteres."
Isto foi há muitos anos. Contudo, outro dia, mais uma vez, ouvi um cidadão atento, num daqueles programas das tv’s abertos à opinião pública, dizer que em Cascais reside a quase totalidade dos que foram beneficiados pela PAC (politica agrícola comum). Sem foice. Aliás, diga-se em abono da verdade, que quem sabe destas coisas, são tipos como o Mário Soares, Cavaco Silva, Guterres, Barroso e mais recentemente, Sócrates. Salvo o Santana, porque esse não sabe de nada. Sabemos ainda que os principais gurus dos agrários andaram e ainda andam pelo PP. José Manuel Casqueiro e o professor Rosado Fernandes.

Não é por acaso que de volta e meia o “portas” muda de chapéu e nos quer continuadamente enfiar o barrete. Talvez por isso, não seja estranho que a dirigente do PP em Beja coloque o coração junto à boca e venha, desde já, pedir os lugares políticos que acha que quem levou o PP aos 7.3% no Alentejo tem direito. Evidentemente que os cargos não chegarão a todos e desse modo sugiro que na impossibilidade de ser tocada, que à dona Sílvia Ramos, presidente da agrária distrital, lhe seja atribuída uma coutada ou monte, do tamanho de uma grande freguesia e que logo defina o local onde irá funcionar a praça da jorna, para que tudo fique em absoluto, como no Alentejo de antes de 1974. Afianço que não se ofenderá.
E acho também que os “vadios” não deverão ser presos e que deverão continuar a receber os cheques da PAC para que continuem a achar que o país assim está bem e não precisa de mudanças. Quem precisa que a pátria mude é o povo que continua a colocar o voto na urna de acordo com o Portugal dos que chafurdam nos fundos agrícolas. E por isso não esqueço um tal “anão” barreto, que nos tem por lorpas, e se colocou ao arrepio de D. Fernando, quando mandou devolver as terras aos “vadios”, para poisio, no tempo em que foi ministro do soba Soares. Assim não admira que o FMI visite com frequência o País dos papa-açordas.
De qualquer modo, será bom dizer que a Lei das Sesmarias foi publicada em Santarém a 28 Maio de 1375, não vá os que vêem comunistas por todo o lado acusá-los de serem os autores e defensores morais e materiais da lei. Mas que faz falta que a terra seja dada a quem a trabalha, lá isso faz.
Talvez um dia!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

José Fontinhas

Sentimos a falta do Álvaro, como Saramago escreve no texto que linquei no post anterior.
Entretanto, o meu amigo Agostinho, numa resposta no seu blogue, movida com aquela paciência que lhe admiro, talvez por ser dela desprovido, cita outro português grande, cuja falta também sentimos. Não o nego.
Mas há ainda um outro, que nos deixou faz hoje também 6 anos, do qual a falta é também dolorosa.
Ele cantava assim:

Frente a frente

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.


Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

Álvaro Cunhal, 10-11-1913 - 13-06-2005


"Donde nos vem a nós, comunistas portugueses, esta alegria de viver e de lutar? O que nos leva a considerar a actividade partidária como um aspecto central da nossa vida? O que nos leva a consagrar tempo, energias, faculdades, atenção, à actividade do Partido? O que nos leva a defrontar, por motivo das nossas ideias e da nossa luta, todas as dificuldades e perigos, a arrostar perseguições, e, se as condições o impõem, a suportar torturas e condenações e a dar a vida se necessário?
A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos.
O nosso ideal, dos comunistas portugueses, é a libertação dos trabalhadores portugueses e do povo português de todas as formas de exploração e opressão.
É a liberdade de pensar, de escrever, de afirmar, de criar.
É o direito à verdade.
É colocar os principais meios de produção, não ao serviço do enriquecimento de alguns poucos para a miséria de muitos mas ao serrviço do nosso povo e da nossa pátria.
É erradicar a fome, a miséria e o desemprego.
É garantir a todos o bem-estar material e o acesso à instrução e à cultura.
É a expansão da ciência, da técnica e da arte.
É assegurar à mulher a efectiva igualdade de direitos e de condição social.
É assegurar à juventude o ensino, a cultura, o trabalho, o desporto, a saúde, a alegria.
É criar uma vida feliz para as crianças e anos tranquilos para os idosos.
É afirmar a independência nacional na defesa intransigente da integridade territorial, da soberania, da segurança e da paz e no direito do povo português a decidir do seu destino.
É a construção em Portugal de uma sociedade socialista correspondendo às particularidades nacionais e aos interesses, às necessidades, às aspirações e à vontade do povo português - uma sociedade de liberdade e de abundância, em que o estado e a política estejam inteiramente ao serviço do bem e da felicidade do ser humano.
Tal sempre foi e continua a ser o horizonte na longa luta do nosso Partido."

Álvaro Cunhal, in "O Partido com paredes de vidro"

domingo, 12 de junho de 2011

E um porta-aviões?


Estive numa mesa de voto no passado domingo. Ainda a contagem de votos não tinha chegado a meio, pensei, levado certamente pelas percentagens de votos que íamos pondo em cada um dos montinhos, que desta vez é que era.
Ou seja, se da outra vez tivemos direito a submarinos, desta será muito natural que haja lugar a um porta-aviões.
Embora a ilustre diplomata Ana Gomes quase deitava por terra esta minha muito brilhante dedução política, penso que a “coisa” está bem encaminhada.
Não há dúvida que dois mais dois são sempre quatro: temos mais do mesmo.

A Barca que não muda o rumo

Augusto Alberto

A propósito meu último texto, devo dizer que nem tudo foi mau. Por cá, na mesa onde voto, a CDU subiu e bem, de pouco mais de 20 votos para 62. Também é certo que no total nacional as perdas foram cerca de 5.000 votos. Talvez porque alguns patriotas e de esquerda de tão chateados, tenham rumado simplesmente à praia e outros, ainda, de tão ressabiados com o Partido Socialista, tenham votado no PSD. Hipóteses! Contudo, reconheço que nem sempre a mensagem passa, apesar da justeza das propostas e da excelência dos quadros. O que fazer? Desistir! Esse é o desejo de boa gente, mas desenganem-se.

De todo o modo, convém não reduzir as coisas. Concedam-me o direito de afirmar que o adversário é forte e ardiloso. Desde logo, a Igreja. Verifique-se que os momentos capazes de superar a fraterna festa do Avante, são as monumentais festas em Fátima. A Igreja continua a carrear para o redil milhares de carneiros, neste período áureo da caridadezinha, disponíveis ao chamamento ideológico. Sem espinhas. Depois, a imprensa escrita e falada. Toda, de ponta a ponta, funciona como a grande modeladora das consciências e opiniões, e dos mais mediáticos programas da treta foram arredados os comunistas. Fica o singelo exemplo da quadratura do círculo, da TV do amigo de príncipes e ladrões.
Para boa compreensão, deixo aqui um pequeno registo: a propósito da cada vez mais soletrada renegociação da dívida, se a questão for colocada por um alto quadro do PCP, aqui del rei, logo cai o labéu sobre o protesto e o tremendismo do PCP. Mas se entretanto a hipótese for colocada pelo celestial gestor Carrapatoso, ou, em última instância, pelo insigne professor do ISEG, Cantigas, não o avô, mas o João, pois estamos perante um superior e inteligente entendimento teórico e comparativo. Combater a máquina de magistral eficiência, que tem desgraçado a pátria desde há 37 anos, sem que os comunistas tenham tido a mínima participação nas extravagâncias, mas que mantêm a acusação de serem, eles, os grandes responsáveis, não é fácil. Porque, blazé, nacionalizaram tudo o mexia. É só meia verdade. Porque se nada fosse nacionalizado, como ia a “reacção”ainda hoje desnacionalizar e conseguir alguns tostões para continuar a esbornea? Boa pergunta?
Há pouco passei de viés os olhos por um ensaio, a ler em breve, de um jornalista Inglês, radicado há 25 anos em Portugal e que de cá não arreda, por tamanho gosto. Fala de um povo sofredor desde o século XVI e não percebe de onde nos vem o gozo. Desde logo, vítimas da santa inquisição, que fuzilou e queimou gente do calibre de Damião de Góis e António José da Silva. Vitimas de uma surrada e inapta Coroa que borrada, nos deixou órfãos e fugiu na primeira barca das hordas de Napoleão e que depois tremeu com o ultimato inglês de 1890 e ainda nos deu uma rainha puta e um rei corno, como é devido a quem trai, mais a ditadura de João Franco, (parece endémico). Vitimas depois das diatribes da épica 1ª república. Sofredores da 2ª, caldeada no fascismo e na guerra perdida. O júbilo pelo inicio da 3ª. Mas enfim, agora que ainda cá estamos, saboreamos o modo como mais uma vez fomos burlados e de novo vitimas, porque a festa foi curta e já acabou. Cabisbaixos há seis séculos? Porque as elites têm sido uma merda. Mas olhem que de comunistas só se fala há 90 anos. Afinal, onde está o defeito?
Salta à vista que Deus não deu aos comunistas a totalidade das virtudes. Se as tivéssemos, talvez o povo fosse mais povo. Mas Deus deu-nos sobretudo a capacidade de reconhecer, lindamente, os nossos limites, e a vontade de continuar na barca que não muda o rumo.

sábado, 11 de junho de 2011

Ao General e ao Companheiro

Porque continuamos a lutar por Abril.
Aqui,  aqui e aqui se recorda a figura maior de Abril.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O dia das comendas


A Ordem Militar de Cristo, uma ordem honorífica, é concedida por destacados serviços prestados no exercício das funções em cargos de soberania ou Administração Pública, na magistratura e diplomacia que mereçam ser especialmente distinguidos.
Não percebo, então, a que propósito Manuela Ferreira Leite vai receber esta distinção. Se pelo facto de ter dirigido o Ministério das Finanças, se só por ter afinidades políticas com o Presidente da República.
Considerando o primeiro caso é justo que todos os detentores da referida pasta também sejam agraciados. Assim, o Teixeira dos Bancos que se prepare para o ano.
Já considerando o segundo, não é admiração nenhuma pois o detentor do mais alto cargo da nação  condecorou, há uns tempos atrás, agentes da PIDE (isto foi ainda antes de chamar dia da raça ao 10 de Junho). Por isso, condecorar os amigos não lhe fica pior.
Quem não tem culpa nenhuma desta treta toda e vê o seu nome aqui misturado é o Luís Vaz.
Mas deixa-nos aqui uma redondilha. Lá vai ela:


Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A propósito de pepinos

Camões e as altas torres

um texto de Eugénio de Andrade


De Camões, em pura verdade, muito pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu pobre. Morreu mais pobre ainda (se não miseravelmente), ele, que acumulou bens que milhares e milhares de homens não têm chegado para delapidar. E será difícil exaurir tão fabulosa fortuna. Porque – quem o duvida? – foi Camões que deu à nossa língua este aprumo de vime branco, este juvenil ressoar de abelhas, esta graça súbita e felina, esta modelação de vagas sucessivas e altas, este mel corrosivo da melancolia. Daí ser raro o verso português digno de tal nome que as águas camonianas não tenham molhado de luz, desde as mais ásperas das suas consoantes às vogais mais brandas.

Fora do nosso coração, não sabemos onde Camões nasceu; nem o ano ou o dia em que saiu da “materna sepultura” para o primeiro amanhecer. Como não sabemos onde estudou ou quem lhe ensinou o muito que sabia. Nem isso importa. Nalgumas linhas da sua poesia, e sobretudo nas poucas cartas que indubitavelmente são dele, pode ler-se que, como português, encarnou até à medula toda a nossa condição: pobreza, vagabundagem, cadeia, desterro. “Erros”, “má fortuna” e “amor ardente” se conjuraram para fazer daquele alto espírito do Maneirismo europeu uma das figuras mais desgraçadas da via-sacra nacional. Por “erros”, talvez se possa entender um cristianíssimo arrependimento daquele marialvismo da sua juventude; a “má fortuna” não pode ter sido senão a de ter vivido num tempo em que “Portugal era uma casa sem luz em matéria de instrução”, e se preparava fatidicamente para abandonar todas as suas guitarras nos campos de Alcácer Quibir; quanto ao “amor ardente” – não foi o próprio Camões que se mostrou dividido entre o límpido apelo dos sentidos e toda uma platonizante teoria de amor bebida em Petrarca e Santo Agostinho?

Não sabemos também quem o poeta tenha amado, para lá das anónimas “ninfas de água doce” do Mal-Cozinhado e outros bordéis de Lisboa. Mas que tais “ninfas” tiveram na sua vida importância, ninguém pode duvidar. As cartas de Camões, e como fonte da sua vida privada nada temos mais seguro, além de nos darem notícia do seu espírito arruaceiro, quase não falam de outra coisa. Que a sua poesia só muito raramente tem a ver com os “pagodes” de Alfama é óbvio, mas dali deve ter partido algumas vezes para, depois de metamorfoses várias, voar muito alto, com sempre aconteceu, particularmente em herdeiros da cortezia e do dolce stil nuovo. Porque a verdade é que nenhuma poesia portuguesa partiu tanto dos sentidos para tanto se desprender deles, como a de Camões. Talvez Aquilino tenha razão: Camões deve realmente ter saboreado com o corpo todo as coisas boas, defesas ou permitidas da vida, mas teremos de acrescentar que nenhum outro poeta foi capaz de se erguer tão alto ao céu platónico das ideias, e tão pungentemente meditar sobre as “mudanças” a que todo o amor está sujeito, ou tão dramaticamente arrancar do “abismo infernal de (seu) tormento” a transparência de um canto dilacerado por uma lúcida consciência de desamparo e desconcerto. E não me venham com maniqueísmos: “damas da corte” de um lado e do outro “damas de aluguer” – o amor ergue os seres ao horizonte da dignidade, e Camões, ou quem quer que seja, se na verdade amou, nunca fez outra coisa.

Se não estou em erro, foi António Sérgio quem mais incisivamente trouxe o lirismo camoniano para a esfera do neoplatonismo, e sublinhou, além de preocupações religiosas e morais, a raiz metafísica da sua poesia amorosa. Ao pôr-se o acento sobre o carácter intelectual desta poesia, procurava-se corrigir uma ideia bastante corrente de que o poeta seria predominantemente sensorial, antimetafísico, e não sei que mais. Claro que Camões, como homem, medida de todas as coisas, foi um e outro, porque nada impede que a música de uma natureza mesmo profundamente sensual, mas de eminente capacidade visionária, possa subir às mais altas torres; que se saiba, não há incompatibilidade nenhuma entre o estar-se eroticamente “a prisões baixas atado” e ter no “alto pensamento” a sua naturalíssima complementaridade.

Afinal, este homem que deixou fama de desabusado, este pobre soldado raso que regressa de Ceuta a “manqueja(r) de um olho” (para o dizermos com terríveis palavras suas), que serviu na Índia durante cerca de três lustros sem sequer ter ganho para as passagens de regresso à pátria, este homem que, segundo um dos seus primeiros biógrafos, ao morrer não tinha um lençol para lhe servir de mortalha, estava destinado a consolidar a Hierarquia com o seu Canto – o supremo ressoar das águas de todos os nossos mares e de todos os nossos olhos.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

“Um ovinho pela manhã, boa ideia da mamã”

Augusto Alberto

Após muito povo ter dado carta branca para levar adiante o roubo, pelo sim, (quem sabe, alguns irão hoje ao centro de emprego e dir-lhe-ão:- tenho muita pena, acabou-se-lhe o subsidio) e ainda outros, pela omissão, (dos que foram à praia e no regresso, ficarão a saber que o posto de trabalho foi extinto), vem-me o desejo de reflectir um pouco sobre as idiossincrasias do português.
E nesse sentido, recordo um dos mais notáveis momentos publicitários que passaram pela TV. O homem preto, com uma cadeira ferrada pelos dentes e que fazia círculos em redor do seu centro de gravidade, que acabava com uma voz que confirmava a vantagem da marca: - é um artista português. Usa pasta medicinal Couto. Também eu fui sugestionado. Hoje passou a produto gourmet, e por isso, só ao alcance de finíssimos dentes.
Mas lembro ainda um outro raro momento, que apelava ao consumo de produtos nacionais, e que nos trazia uma menina com os cabelos em caracol e em idade da primária, que logo pela manhã, antes de ir para a escola, comia um ovo e depois dizia: - um ovinho pela manhã, boa ideia da mamã. Apesar de bem avisados, lá em casa, contudo, ficávamos pela metade. Na altura éramos alguns e tal como a menina, eu era um menino da primária, e por isso de volta e meia diziam-me, vai a pastelaria com a picheira e que te dêem 15 tostões de claras. Lá ia. Voltava com as claras e o almoço era uma festa, porque se faziam enormes e excelentes omeletas. Aproveitadas as gemas para as especialidades pasteleiras, ficava a arte de fazer omeletas com meio ovo.
Ora cá está como o modo como sobrevivemos revela as nossas idiossincrasias. Não será pela meia fome que deixaremos de correr à fábrica, dar no batente, comer as sopas, beber o copo, dar no batente, e por fim, cansado, beber o último copo e correr a casa. Aliás, nesta matéria já me esquecia da mais célebre arte de falar com o estômago em tempo de fome. A arte de dividir a sardinha por dois. A cabeça para a mãe, e o lombo e o rabo para a filha. E às vezes, até por três. Por isso, um fabiano que recorda como há muitos anos chupava as claras ou simplesmente tomava o gosto da sardinha pelo rabo, já não se admira das idiossincrasias da pátria, nossa mãe e ladra, quando percebe que numa lista para deputados, um qualquer “joãozinho”, possa ser eleito deputado de Portugal e a gente tenha logo a tentação de concluir, que afinal a pátria, continua uma penúria.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Mais betão


Não pude deixar de me lembrar de um livrinho escrito por dois vereadores do “ps”, quando estavam na oposição. Chamava-se ele “Figueira da Foz – erros do passado, soluções para o futuro”.
Neste livro, a páginas 57 e 58, a pena expedita do vereador Tavares refere que “… importa consagrar como objectivo aquilo que Helena Roseta chama de “urbanismo participativo”, começando por incrementar a consciência social sobre o abuso urbanístico. A arquitecta refere, com propriedade, que “o território não é infinito nem pode crescer ilimitadamente” e que o poder que as Câmaras detêm é equivalente ao poder que o estado tem com a emissão de moeda. “O que rende milhões – acrescenta – não é tanto como vulgarmente se pensa, a construção civil, que é a fase final visível do processo, mas sim a transformação do solo que resulta de três vias: a classificação de um solo rústico como urbano ou urbanizável; a mudança de usos (uma zona verde que passa a habitação, um espaço de equipamento que é transformado em escritórios, uma praça pública que se “privatiza” para um centro comercial, etc.) e o aumento dos índices de ocupação muito para lá do razoável, através do aumento do número de pisos ou da volumetria”.
Este poder só pode ser controlável pela sua democratização e pela vigilância dos cidadãos, embora ajudasse muito fazer-se como em Espanha criando um novo ilícito criminal: o delito urbanístico ou contra o ordenamento do território.”

Agora estão no poder.
E lembrei-me disto porque a instalação de outra grande superfície comercial na Figueira da Foz significa a continuidade do que sempre foi um ex-libris na cidade: a voracidade dos interesses imobiliários.
A esse propósito a Comissão Concelhia do PCP da Figueira da Foz recorda, em comunicado distribuído à imprensa, a especulação que sempre houve sobre os terrenos do parque de campismo e do estádio municipal.
Desta vez, sobre a voracidade imobiliária na Várzea de Tavarede, os comunistas sublinham que “esta intenção, bastante questionável, numa cidade já saturada de espaços semelhantes, é ainda mais gravosa se levarmos em conta as tremendas dificuldades com que se debate o comércio tradicional”. A situação, garantem, “torna-se ainda mais preocupante quando os terrenos em causa estão há vários anos destinados à construção do Parque Verde de Tavarede, natural complemento e prolongamento do Parque das Abadias”.

Quanto a “incrementar a consciência social sobre o abuso urbanístico“, o PCP faz o seu papel . Quanto a tentar criminalizar o “delito urbanístico” creio mesmo também já o ter tentado, em sede legislativa própria, com a oposição, naturalmente, dos do costume.
Mas em todo o caso é sempre bom ter vereadores com a pena expedita e obra publicada.
Prá gente se rir.

O voto é a arma do povo

cartoon de F, Campos

domingo, 5 de junho de 2011

mãoporbaixoapertaatarraxamãoporbaixo

Augusto Alberto

Aos sulcos estreitos deixados na lama…tinham-se sucedido boas estradas. Na Ford a produção não cessava de melhorar: menos desperdício, mais vigilantes, supervisores auxiliares, delatores (quinze minutos para almoçar, três minutos para ir à casa de banho, por toda a parte o toca a mexer…, mão por baixo, aperta anilha, atarraxar parafuso, encaixar cavilha, mão por baixo, apertaanilha, atarraxaparafuso, mãoporbaixoapertaatarraxamãoporbaixo, aperta até aos últimos gramas da vida sugados pela produção…Aqui está, no que reflecti, ao contrário de outros, talvez já cansados, no miserável dia da reflexão, antes do povo votar em massa nos Partido Socialista, Partido Social-Democrata, Partido Popular. Para melhor esclarecimento, John dos Passos acabou por me obrigar a reflectir sobre aquilo em que se está a tornar as nossas vidas. Um colossal retrocesso civilizacional. Um recuo aos primeiros anos da industrialização do século XX, porque o grande capital no seu gigantesco esforço para dobrar este tenebroso cabo, e manter a dianteira, vai obrigar-nos a apertaanilha, atarraxaparafuso, mãoporbaixoapertaatarraxamãoporbaixo. Melhor dizendo, baixar salários, aumentar e inventar novos impostos, alteração à constituição para mais fácil despedir, (vai avançar o conceito de despedimento por justa causa/despedimento individual) e CIA, com o beneplácito legislativo do PartidoSocialistaPartidoSocialdemocrataPartidoPopular. Em definitivo, vai ser para isto que servirá este colossal embuste, de hoje, dia 5/06/2011, cem anos após este notável naco de prosa de John dos Passos. Durante muitos dias foi isto que nos foi escondido po, Passos Coelho, Sócrates, Portas. passoscoelhosocrátesportasdurãobarrosoantónioguterresjorgesampaiomanuelalegremárioSoaresramalhoeanesotelosaraivadecarvalholurdespintassilgomaisaCIA, são e foram a guarda avançada do grande capital financeiro e agiota nesta pátria de quase 8 séculos.
No embuste de hoje, nem sequer as moscas vão mudar. As moscas vão ser as mesmas, porque o povo é também o mesmo e não faz intenção de mudar.
Numa boa merda é o que isto se está a tornar.
O 25 de Abril já foi chão que deu uvas, porque entretanto há povo que se entretem a abater a vinha.
Passem bem.

Legislativas/2011 - Resultados (quase) definitivos


Segundo o gráfico acima, foi uma vitória esperada do FMI, com quase 80% dos votos. Mais concretamente, 78,77%, neste momento. Quer dizer, trocou-se a cor dos gatos.
A luta continua.

Adenda às 22h45: A Troika, ou o FMI, ou lá o que essa merda seja, desceu um pouco na percentagem, mas nada que os incomode: têm agora 78,45%.
Balha-nos que o povo é sereno.

Outra adenda, esta às 23h29: Desceram mais um pouquito, para os 78,42%, mas nada que faça tremer nem o Dominique nem o Zé Manel.

Eis-me navegador

Eis-me navegador. Um sonho abarco.
A vida é mar, a vida é toda um mar.
E quem tem alma e sabe o que é sonhar
- há-de lançar às águas o seu barco.


Heróis – Fernão, Colombo, Gama, Zarco!
mistério, assombro, - a vaga, a noite, o luar,
o espaço, o vento, a chuva, a nuvem, o ar…
- adonde a calma, o rumo, o porto, o marco? –


Mas uma força interna me estimula
para que eu vença a onda e o vendaval.
Tanto mais quando o vento brame, ulula


e o mar ameaça abrir o hiante seio
eu tenho a fé e o sonho de Cabral
em busca do Brasil do meu anseio!

Geraldo Bessa Victor  (poeta angolano)

sábado, 4 de junho de 2011

Reflexão? Reflexão.

Em verdade vos digo que estou há duas horas a reflectir e não consigo chegar a conclusão nenhuma. Talvez o defeito nem seja meu. Talvez nem sequer haja seja o que for para reflectir.
Bem vistas as coisas, na luta de classes só há dois lados. O que facilita a escolha sem ser necessário uma grande reflexão.
Ou defendemos a escola pública e a saúde como um direito, ou continuaremos a ter as universidades cheias de grunhos, que além de beberem e gastarem o que os papás roubam, têm como preocupação o facto de alguém fazer pichagens numas escadarias quaisquer, e pagaremos a saúde como um luxo.
Ou defendemos a soberania nacional ou não nos importamos de ser governados e manipulados do exterior.
Ou defendemos o trabalho com direitos ou transformar-nos-emos em escravos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pas de problème!

Apesar das escandaleiras, ora no FMI ora na Comissão Europeia, como que a quererem dizer que são tudo pessoas de bem, as coisas continuam pacíficas e sem grandes ondas. Tanto que no rectângulo mais a ocidente, a troika, segundo as sondagens, obterá muito perto dos 80% dos votos que hão-de ser expressos nas urnas.
Mas mesmo assim, lembrei-me de uma canção do Grand Jacques, de 1953. Actualizadissima.
 Ora ouçam:

Da vergonha e do espanto

Augusto Alberto

Um povo assombrado prepara-se, a fazer fé nos acontecimentos, para dar um enorme balão de esperança e vida ao mais miserável capitalismo. Quer em modo de socialismo em liberdade ou de rosto humano, mais suave e embrulhado nas rábulas requentadas do estado social, ou em modo de social-democracia, do PPD/PSD, de maneira mais rápida e abrutalhada.
Há povos assim. Com uma penosa relação de séculos com a traição, os traidores, o sofrimento e a miséria. Que se há-de fazer?
A este propósito, ainda me parece mentira, no último dia de Maio deste ano da nossa desgraça, pelas 8 horas de uma manhã fria de primavera, e após uma noite pouco dormida, vou tomar, como é minha rotina, o meu único café e passar os olhos pelo trambiqueiro jornal dos cafés. E de chofre, uma mulher, na meia idade, que preserva beleza e asseio, mas completamente assustada, passa junto a mim e pede-me pão. Apanhado pela surpresa, fiquei atordoado, porque nunca pensei que a mulher que passava e levava auto-estima, me viesse logo ali, no caminho, pedir pão. Um passo dado, parei e voltei-me. Para meu espanto a mulher foi caminhando ladeira abaixo, assustada e envergonhada, sem me dar tempo para perceber de onde vinha e como tinha chegado a este pedaço de terra, que nunca lhe tinha posto os olhos. Fez-se-me uma manhã desgraçada.
Carregou-me a memória e dou-me como é óbvio, a perguntar, se foi para isto que muitos de nós sofreram as agruras do fascismo e ainda por cima, porque me pediu pão esta mulher, logo a mim, no dia exacto em que fazia 40 anos que me deixaram sair da prisão fascista? Com todo o propósito, tenho o direito a perguntar: Afinal, para que foi que se fez a revolução e como foi possível chegar aqui?
Vai o povo, que vive da caridade, desavergonhadamente anunciada e institucionalizada, da vergonha e do espanto, mais uma vez dar o sopro ao partido do senhor padre, e aos que o vão continuar a roubar. E a seguir, depois de provar do fel, vai amaldiçoar as coisas, rabujar um pouco, anunciar que são todos iguais, sem perceber que afinal é o grande culpado.
Mas deixa que te diga, cá estaremos de modo paciente, para te ouvir, marchar sem cessar sobre a cidade que tantas vezes já nos viu e ouviu, na esperança de que um dia te juntes, para dizeres que para além de deveres, também tens direitos. Para que percebas que há uns que nunca se cansam de descer as avenidas em teu favor e uns tantos, autorizados por ti, que te roubam e desgraçam. Há alguma coisa, deste lado, de masoquismo, bem sei, mas a tua sorte é que ainda há gente assim.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

E os "vasconcellos" pela janela fora?

cartoon de F. Campos

"Um projecto democrático, patriótico, de progresso e justiça social só pode avançar alicerçado no pleno exercício da soberania nacional.
A soberania nacional não se negoceia, não se vende e não se cede.
É nesta ideia que assenta a política patriótica e de Esquerda que o PCP defende e propõe ao povo português".

                                                                                                   Jerónimo de Sousa

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Leonard Cohen vence "Prémio Príncipe das Astúrias"

Leonard Cohen, canadiano, de origem polaca, venceu o "Prémio Príncipe das Astúrias". Mais conhecido como cantor e compositor, actividade que abraçou depois de consagrado como romancista e poeta.
Aqui fica (escolhemos esta) uma das suas emblemáticas canções, no original e na versão francesa de Graeme Allwright. Este último, já fequentador assíduo da "aldeia", como Leonard também chegou ao mundo das canções muito tarde. Graeme veio do teatro.
Boa audição...




1 de Junho em Portugal

"Mais de 630 mil famílias expropriadas do abono de família"

"duas em cada cinco crianças estão a viver em "situação de pobreza"