Augusto Alberto
Um Povo que elege um Isaltino, é porque está habituado a eleger “Isaltinos”. Sempre mereceu, merece e por isso merecerá a canga por um tostão.
Um povo que é terno, resistente, pachorrento, incapaz de dar uns coices, que vota em gente que hoje é capaz de dizer o contrário do que disse ontem, e que está sempre disponível para democratizar esse tipo de trafulhas, certamente não deverá tirar o rabo do mocho, porque se a pátria está hoje assim, é de sua inteira responsabilidade.
Se dúvida houvesse, e agora dou a resposta a quem aqui veio berrar contra um texto meu, é ver como o povo deste meu concelho, a Figueira da Foz, elegeu um homem que fez de um embuste uma promessa. A desonra corou-o e por ventura fê-lo voltar atrás e arrear o cartaz em 24 horas. Um Povo que assim elege gente sempre disposta a recorrer à mentira para atingir os fins, só poderá reduzir os adjectivos que o qualificam.
Mas para além de Isaltinos, de embusteiros, também elege gente envinagrada e ressaibiada. É o caso do novo presidente da Câmara de Beja, que logo soube da vitória, disse que a Beja tinha chegado a democracia e a liberdade. Beja soltou-se da ditadura, disse. A esse presidente eleito eu deixo um conselho, que cure a bebedeira envinagrada e a seguir, poderá fazer o favor de olhar a pátria para lá de Beja, porque verá que se calhar a vida, às vezes, é como uma capicua.
Poucas horas após o dislate, ficamos a saber, que afinal, em muitos lugares desta terna pátria, as coisas azedaram entre ex-candidatos do Partido Socialista e do PPD/PSD. Trocas de punhos e gente a dar entrada nas urgências hospitalares e a sair com nódoas e pensos, que não deixam escapar e encobrir as evidências. Mas se uns socos são só uns socos, a povoação de Ermelo ficou como grande emblema da democracia. Soubemos logo, ainda antes do actual presidente da câmara de Beja ter sido eleito, que um seu camarada, sem truques e sem recuo, fez como se faz em ajuste de contas étnicos lá pelas Áfricas ou do melhor terrorismo da América Latina, fulminou a pólvora democrática e libertária, um seu adversário. Eram coisas antigas, é o que se diz, mas a verdade é que pela orla da manhã, ai está o democrático ajuste. No concelho de Tarouca, mostrou-nos a TV e os jornais, o presidente, camarada do presidente da Câmara de Beja, está a ferrar funcionários autárquicos, familiares de gente que livre e democraticamente decidiu apoiar o partido rival, o PPD/PSD, com sevícias morais e psíquicas.
Se o actual presidente da Câmara Municipal de Beja perceber então que a pátria está para lá de Beja, verá que afinal mais valia guardar o dislate, porque afinal, em terra com falta de liberdade, o senhor foi livre e democraticamente eleito e com efeito, tomará posse do lugar sem outro tipo de contratempos, contudo, outros seus camaradas, meteram as liberdades e os valores da democracia na ponta dos punhos, das decisões, arbitrárias e até, mais grave, na ponta de uma pistola.
José Gomes Ferreira, o poeta militante, escreveu um dia, que “viver sempre também cansa”. Mas eu digo ainda mais. Viver sempre assim, a ter de aturar este anticomunismo fácil e certeiro, cansa muito mais.
Sorte desta gente, é que afinal, os comunistas, são gente paciente, e democrática.